Uma discussão de cunho Reformado sobre profecias preditivas extrabíblicas, enunciadas depois da conclusão do cânon das Escrituras

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 Documento compilado por Greg Barrow.

Em nome da Assembléia Geral da Puritan Reformed Church of Edmonton (Igreja Reformada Puritana de Edmonton)
O documento a seguir é uma resposta as perguntas levantadas por Mike Wagner (membro da Igreja Puritana Reformada de Edmonton) quanto a posição de nossa igreja a respeito da profecia preditiva extraordinária posterior ao fechamento do cânon da Escritura. Não se pretende ter um documento exaustivo a respeito do assunto, mas simplesmente uma resposta a perguntas específicas. Embora inicialmente não se tenha intencionado a distribuição pública do documento, recebemos pedidos para que fosse disponibilizado para um público mais amplo. Deseja-se que este resumo de nossa posição ajude a Igreja de Cristo encorajando outros estudos deste difícil tema. Segue:
Qual a diferença entre a posição teológica sobre profecia (revelação extrabíblica) dos homens de Deus acima mencionados e os carismáticos dos dias de hoje?
Apesar do termo “carismáticos dos dias de hoje” ser bem amplo, iremos assumir, nesta resposta, que você se refere aos carismáticos que afirmam que a profecia extrabíblica é tanto válida e vinculada aos crentes dessa era moderna. Eles afirmariam que Deus está falando com a mesma autoridade com que ele falou na Escritura, e consequentemente todos os crentes deveriam, de acordo com eles, orientar suas vidas por essas supostas declarações de inspiração direta. Além disso, eles asseguram que o ofício de profeta é ordinário e ainda existe.
Primeiro, nós acreditamos que o ofício de Profeta é extraordinário e cessou junto com os ofícios de Apóstolo e Evangelista tal como registrado em O Segundo Livro de Disciplina (Of the Parts of the Policy of the Kirk, and Persons or Office-Bearers to Whom the Administration Thereof is Committed), e em A Forma de Governo da Igreja Presbiteriana (“Of the Officers of the Church” – dos Oficiais da Igreja), sendo inclusive ambas as normas adotadas pela Assembleia Geral da Escócia 1638-1649.
O Segundo Livro de Disciplina, ratificado pela Igreja da Escócia em 1578, contém a seguinte declaração, a respeito dos oficiais extraordinários da Igreja:
No Novo Testamento e tempo do evangelho, ele [Cristo] usou o ministério de apóstolos, profetas, evangelistas, pastores, e doutores na administração da palavra; o presbítero para o bem-estar e administração da disciplina; o diaconato para os assuntos eclesiásticos.
Algumas dessas funções eclesiásticas são ordinárias, e algumas são extraordinárias ou temporárias. Existem três funções extraordinárias: o ofício do apóstolo, do evangelista, e o de profeta, que não são perpétuos, e agora cessaram na Igreja Nacional da Escócia, exceto quando Deus extraordinariamente se agradar em os persuadir novamente por um tempo. Existem quatro funções ordinárias ou ofícios na Igreja Nacional da Escócia: o ofício de pastor, ministro ou bispo; o doutor; o presbítero ou ancião; e o diácono.
Esses ofícios são ordinários, e devem permanecer perpetuamente na Igreja Nacional da Escócia, se necessário para o governo e política da mesma, e não mais ofícios devem ser recebidos ou ocorridos na verdadeira Igreja Nacional da Escócia estabelecida de acordo com a sua palavra (The First and Second Books of Discipline, Dallas: Presbyterian Publications, 1993; Second Book of Discipline, Chapter 2, Of the Parts of the Policy of the Kirk, and Persons or Office-Bearers to Whom the Administration Thereof is Committed, pp. 127-28, ênfases acrescentadas).
A Forma de Governo da Igreja Presbiteriana declara:
Dos oficiais que Cristo designou para a edificação de sua igreja, e perfeição dos santos, alguns são extraordinários, como os apóstolos, evangelistas, e profetas, que já cessaram. Outros são regulares e perpétuos, como pastores, mestres, e outros líderes da igreja, e os diáconos (The Form of Presbyterial Church Government, in the Confession of Faith; the Larger and Shorter Catechisms, etc, Inverness: Publications Committe of the Free Presbyterian Church of Scotland, 1976; p. 398, ênfase acrescentada).
A Assembleia Geral da Igreja da Escócia, 10 de Fevereiro, 1645, Sessão 16, afirma que os Livros de Disciplina são uma parte de suporte na uniformidade pactual juramentada a ser respeitada na National and Solemn League and Covenant.
A Assembleia Geral sendo mais solícita e desejosa, não somente pelo estabelecimento e preservação da forma de Governo da Igreja da Escócia nesse reino segundo a Palavra de Deus, os livros de Disciplina, os Atos das Assembleias Gerais, e a Aliança Nacional, mas também pela uniformidade no Governo da Igreja da Escócia entre esses dois reinos, agora mais forte e diretamente unido pela última Liga Solene e Pacto… (The Acts of the General Assemblies of the Church of Scotland, 1638-1649 inclusive, p. 259, ênfase acrescentada).
Além disso, nosso Termos de Comunhão também nos permite afirmar tanto o Primeiro e Segundo Livros de Disciplina e a Forma de Governo da Igreja como autoritativo e concordante com a Palavra de Deus. O Termo de Comunhão nº 3 declara:
Que o Governo da Igreja Presbiteriana e a forma de culto são sozinhos de direito divino e inalterável; e que o mais perfeito desses modelos já alcançado, é exposto na forma de Governo e no Diretório para o Culto, adotado pela Igreja da Escócia na Segunda Reforma.
O Termo nº4 declara:
Que o pacto público e social é uma ordem de Deus, obrigatório nas igrejas e nações debaixo do Novo Testamento; que o Pacto Nacional e a Liga Solene são uma exemplificação dessa instituição divina; e que esses Escritos são de contínua obrigação sobre a pessoa moral; e em conformidade a isso, que a Renovação desses Pactos em Auchensaugh, Escócia, 1712 foi de acordo com a Palavra de Deus.
Todos estes documentos são citados para provar que nós devemos atentar-nos que (como parte de nosso pacto uniforme), “Essas são funções extraordinárias: o ofício de apóstolo, de evangelista, e de profeta, que não são perpétuos, e que agora cessaram na Igreja de Deus na Escócia, exceto quando ele (Deus) extraordinariamente se agradar em os persuadir novamente por um tempo.
Se nós, ao respeitar os Pactos, falharmos em manter a verdade que Deus pode e faz persuadir extraordinariamente por algum tempo algumas dessas funções proféticas extraordinárias, nós contradiríamos francamente o Segundo Livro de Disciplina e consequentemente seríamos culpados de subverter a intenção original do Pacto uniforme da Igreja da Escócia (1638-1649 inclusive) como juramentado em nossos Pactos. Mais ainda, nós seríamos culpados de interpretar infielmente nosso terceiro e quarto termos de comunhão dado ao fato que juramos apoiar a Forma de Governo Presbiteriano e nossos Termos de Comunhão. Desejosos de aderir o mais fielmente quanto possível à Palavra de Deus, não temos a intenção de negar as declarações desses documentos que acreditamos ser consensuais à Palavra de Deus. Por consequência, todos os que deliberada e obstinadamente se expressarem em contrário ao mesmo seriam necessariamente excluídos de nosso Pacto de Renovação e de nossa mesa de comunhão. Aqueles que venham obstinada ou deliberadamente observar, publicar, ou promover a doutrina contrária seria disciplinado de acordo com a natureza dos seus pecados e excluídos da membresia da igreja.
Considerando que nossos antepassados claramente e autoritativamente afirmaram que Deus de fato extraordinariamente promove a função profética para além do tempo do fechamento do cânon da Escritura nossa próxima tarefa é discutir algumas boas precauções e limitações para prevenir extremos tanto de um lado quanto do outro nessa difícil questão.
George Gillespie aborda uma discussão dos oficiais extraordinários da Igreja em seu Miscellany Questions. Ele sustenta que profetas são homens ‘extraordinariamente inspirados pelo Espírito Santo, e devem ser reconhecidos entre essas outras administrações que não eram de contínuo, ou para ser ordinária na igreja’ (George Gillespie, Miscellany Questions, Works, Vol. 2, Chapter 5, section 1, point 3, p. 28).
Escrevendo a respeito do assunto de profetas e evangelistas, Gillespie registra:
Esta questão parece ser muito complexa e espinhosa, todavia eu sou levado pelas controvérsias de tempos, relativas a necessidade da missão e ordenação a todos os ministros das coisas santas, e de igual forma por aquelas mantidas por alguns homens de conhecimento, de que ainda existem, ou talvez, evangelistas na igreja. Calvino disse, na verdade, que em seus dias, Deus levantou evangelistas para resgatar a igreja do papado, (Institutes, lib. 4, cap. 2, sec.4)
… a respeito de Profetas, eu já antes mostrei Justino Mártir (Dial. Cum Tryph. Jud.) que, nos dias dele, ainda havia alguns na igreja que tinham um extraordinário dom de profecia, e tal também existia em outros lugares, e noutros tempos; que pode haver diversos exemplos a serem dados.
… novamente eu digo, a obra de profetas e evangelistas era extraordinária; para a distinta ou característica própria de um profeta, i.e., o máximo que ele poderia fazer que não poderiam os oficiais ordinários, e nem nenhum outro exceto um apóstolo, é revelar grandes segredos, ou coisas futuras, pela inspiração especial e extraordinária do Espírito Santo. Suas designações tão próximas, para propheetees pheeteuo se origina de  propheemi,  eu profetizo.
Mas qual era a obra distinta e propriamente característica de um evangelista, i.e., que um pastor ou mestre não poderiam fazer, e que ninguém mais poderia fazer exceto um apóstolo ou profeta? Falando claramente, deve ser lembrado que a palavra evangelista não é aqui tomada naquele reduzido senso comum, como do Espírito Santo escrevendo o evangelho pela mão de um escritor, porque neste sentido existiram quatro evangelistas, e dois deles apóstolos. Mas essa não é a noção da Escritura, que nos diz que Felipe e Timóteo eram evangelistas, Atos 21.8; 2ª Tm 4.5; e que Cristo deu evangelistas a sua igreja para o trabalho do ministério, Ef 4.11-12.
Agora, se consideramos a palavra como a Escritura o faz, o trabalho próprio de um evangelista, i.e., aquele que ninguém exceto um evangelista, ou aquele que era mais que um evangelista, poderia fazer, eu levo em conta: primeiro para lançar os fundamentos da igreja, e pregar Cristo a um povo incrédulo, que não havia ainda recebido o evangelho, ou pelo menos ainda não tinha a verdadeira doutrina de Cristo entre eles. Assim, Filipe, o evangelista, pregou o evangelho de Cristo a cidade de Samaria e batizou-os antes de qualquer outro apóstolo ir até eles, Atos 8.5, 12. E se os 70 discípulos, Lucas 10, eram evangelistas (como muitos acreditam, e Calvino, Institutas, lib. iv, cap 3-4, acha provável), a própria obra deles de evangelista era pregar o evangelho àquelas cidades que não o havia recebido ainda.
O segundo trabalho deles é itinerante e de negociações como mensageiros e agentes em ocasiões extraordinárias e de emergência, com frequência entre uma e outra igreja, e muito distinta da primeira, deslocando-se entre elas. Dessa segunda existem diversos exemplos na Escritura, como 2 Co 8.23; Fl 2.19, 25; 2Tm 4.9; Tt 3.12; At 15.22, 25.
Agora quando eu chamo estas obras e administrações dos profetas e evangelistas extraordinários, não significa que eles sejam todos e em todos os sentidos extraordinários, até como apostolado; e não ouso dizer que desde os dias dos apóstolos nunca houve, ou que até o fim do mundo não haverá, ninguém levantado por Deus com tais dons, e para tais administrações, como eu agora descrevi ser próprio dos profetas e evangelistas, i.e., revelar coisas futuras, deslocar-se entre os não crentes para converte-los pela pregação do evangelho, e entre uma e outra igreja, com extraordinárias incumbências. Mas chamo o trabalho dos profetas e evangelistas extraordinário no sentido de Calvino (registrado por ele onde mencionei antes), i.e., não é comum como pastores e mestres, que tem lugar constante nas melhores formadas e constituídas igrejas. Logo, eu uso a palavra extraordinária aqui, não porque cessou na primeira era da igreja Cristã, mas porque não é, nem precisa ser, ordinária; assim como a obra deles (Miscellany Questions, Chapter 7, p.39, ênfase acrescentada).
Antes de passar para outros reformadores seria esclarecedor examinar o que Gillespie declarou. Primeiro, Gillespie (concordando com Calvino) interpreta a palavra “extraordinário” em um sentido limitado.
Agora quando eu chamo estas obras e administrações dos profetas e evangelistas extraordinários, não significa que eles sejam todos e em todos os sentidos extraordinários, até como apostolado… Mas chamo o trabalho dos profetas e evangelistas extraordinário no sentido de Calvino (registrado por ele onde mencionei antes), i.e., não é comum como pastores e mestres, que tem lugar constante nas melhores formadas e constituídas igrejas.
De acordo com Gillespie e Calvino, a distinção que é feita é entre o que é constante (ordinário) na igreja e o que não é constante (extraordinário) na igreja. Não é para entender como diferenciação entre o que é existente após o fechamento do cânon da Escritura (ordinário) versus o que é não  existente após o fechamento do cânon (extraordinário). Em nosso julgamento Gillespie e Calvino estão corretos. Isto também está de acordo com o acima citado Segundo Livro de Disciplina que estabelece que os dons proféticos já cessaram, “exceto quando ele extraordinariamente se agradar em os persuadir novamente por algum tempo.” Se a palavra “extraordinário” nesse trecho do Segundo Livro de Disciplina, significa “não existente após o fechamento do cânon” a frase seria lida da seguinte forma:
Há três ofícios não existentes (após o fechamento do cânon de Escritura): o ofício de apóstolo, de evangelista, e de profeta, que não são perpétuos, e agora já cessaram (inteiramente sobre todas as circunstâncias) na igreja da Escócia, exceto quando ele se agradou fazê-los não existentes após o fechamento do cânon para persuadir alguns deles novamente.
É evidente que isso não poderia ser o que desejaram dizer os nossos Reformadores Escoceses. De efeito, isso prova que a Igreja da Escócia não desejava sustentar a posição de que o fechamento do cânon causou o cessar de todas expressões proféticas. Assim, arguindo que o fechamento do cânon necessariamente vincula a mão de Deus a totalmente cessar o derramamento do dom extraordinário de profecia sobre a igreja é contrário a Escritura (que em lugar nenhum proíbe a profecia extraordinária após o fechamento do cânon), contrário as normas de nossa igreja (que diretamente dá permissão a isso), e contrário ao histórico conhecimento do testemunho de muitos de nossos ilustres santos.
Mais ainda, note-se a relutância de Gillespie em dizer que a extraordinária revelação de coisas futuras tenha cessado com o fechamento do cânon:
… pois não ouso dizer que desde os dias dos apóstolos nunca mais houve, ou que até o fim do mundo nunca haverá de ter, ninguém levantado por Deus com tais dons, e para tais administrações, como eu tenho agora descrito ser próprio aos profetas e evangelistas, i.e., profetizar as coisas que virão ocorrer… (George Gillespi, Miscellany Questions, Chapter 5, section 7, p.30)
Embora Gillespie não irá “ousar dizer ”que o dom extraordinário de profecia cessou com o fechamento do cânon da Escritura, note que ele acredita que ele ‘deve dizer’:
Eu devo dizer isto, para a glória de Deus, existiram na igreja da Escócia, tanto no tempo de nossa primeira reforma, e após a reforma, tais homens extraordinários que eram mais que pastores e mestres ordinários, até santos profetas recebendo revelações extraordinárias de Deus, e profetizando diversas coisas desconhecidas e surpreendentes, que em conformidade vieram a ocorrer pontualmente, para a grande admiração de todos os que conheciam os detalhes. Tais foram o Sr. Wishart o mártir, Sr. Knox o reformador, também o Sr. John Welsh, Sr. John Davidson, Sr. Robert Bruce, Sr. Alexander Simpson, Sr. Fergusson, e outros. Levaria muito tempo fazer aqui uma narrativa de todos as informações, e muitas delas são estupendas, que para falar de algumas, pode parecer derrogar as demais, mas se Deus me der oportunidade, eu deverei considerar valer fazer uma compilação destas coisas (George Gillespi, Miscellany Questions, Vol. 2, Chapter 5, section 7, p.30).
Nós entendemos a correta interpretação do Segundo Livro de Disciplina e a Forma de Governo da Igreja Presbiteriana como sendo:
Profecia, entendida como uma imediata e ordinária revelação de nova verdade e mistérios do evangelho, tais como a de 1ªCo 14, cessou; e não há tal dom, nem tal ofício desde o fechamento do cânon da Escritura. Profecia entendida como uma insondável, extraordinária particular revelação de eventos futuros não cessou desde o fechamento da Escritura, e de tais ocasionais favores de Deus não necessitam de nossa aprovação aqueles que receberam tais revelações como sendo possuidores do dom de profecia Escritural ou do ofício de Profeta. Assim a vital distinção entre ordinária e extraordinária profecia permanece e as passagens relevantes das normas de nossa igreja são reconciliadas.
A seguir nos voltamos para a opinião de  Samuel Rutherford a respeito do tema da revelação interior.
Ele divide a revelação interior em quatro categorias:
(1) Revelação Profética
(2) Revelação especial apenas para os eleitos
(3) Revelação de alguns fatos para homens piedosos
(4) Revelação falsa e satânica
  1. Revelação profética é aquela difusão no espírito que o Espírito Santo faz no espírito e juízo do homem que escreve a santa escritura, seja profeta ou apóstolo e, isso por uma imediata inspiração da mente e vontade de Deus neles, seja por visões, sonhos, ou qualquer outra forma, sem os homens, ou a ministração ou ensino de homens, como ele fez com Isaías, Jeremias, Is 1.1; Jr 1.1 ou a Paulo Gl 1.1
  1. Existe uma revelação interna especial, feita de coisas da escritura, aplicadas em particular às almas dos crentes eleitos, pela qual, tendo ouvido e aprendido a respeito do Pai, Jo 6.4; que se revela e se faz conhecido a eles; pelo Espírito de sabedoria e revelação, que é a esperança da vocação deles, e riquezas da glória da sua herança nos santos, Ef 1.17-19, e que revelou-se a eles, e que carne e sangue não podem revelar, mas o Pai de Cristo, Mt 16.17. E que o Pai revela aos pequeninos, mas esconde dos sábios e entendidos, Mt 11.25-26 (Samuel Rutherford, A Survey of Spiritual Antichrist (London, 1648), p.39-40).
Nossa Confissão de Fé fala disso no Capítulo 18:2 onde, “nossa garantia de fé certamente não uma persuasão provável e conjectural, firmada em uma esperança falível; mas em uma infalível confiança de fé, fundamentada na verdade divina de promessas de salvação, a evidência íntima daquelas graças sobre as quais essas promessas são feitas, o testemunho do Espírito de adoção testemunhado em nosso espírito que somos filhos de Deus; cujo Espírito é o penhor de nossa herança, pelo qual somos selados para o dia da redenção.”
O mesmo Espírito testifica com nosso espírito que somos filhos de Deus. (Rm 8.16)
Nesse trecho da nossa Confissão de Fé observamos que apesar da Palavra de Deus ser afirmada como a única base objetiva da nossa segurança, também existem uma base secundária e subjetiva nas quais nossa confiança de fé é fundamentada. Existe controvérsia sobre o significado da terceira premissa a respeito de “o testemunho do Espírito de adoção testemunhado com nosso espírito que nós somos filhos de Deus.” Os Teólogos de Westminster divergem quanto ao que seria o ‘testemunho direto” que decorre entre o Espírito Santo e o crente eleito, e consequentemente eles apenas tentam explicar esses mistérios por meio de premissas gerais em nossa Confissão de Fé.
Joel R. Beeke descreve as posições divergentes sustentada pelos teólogos em seu livro Assurance of Faith:
O Testemunho do Espirito
Em relação a terceira premissa em 18.2 (i.e., “o testemunho do Espírito de adoção testemunhado com nosso espírito que nós somos filhos de Deus…”), Kendall observa:
Não se explica. Recorde-se que Paul Baynes e Richard Sibbes destacaram o testemunho do Espírito de adoção, mas ambos, usando raciocínio circular, finalmente se voltaram para os vários “efeitos” para se provar que alguém tinha esse testemunho do Espírito. Não há indícios de que os teólogos indicaram isso, John Cotton indicou – um testemunho direto, embora eles tivessem admitido esta possibilidade (Robert Kendall, Calvin and English Calvinism to 1649, 1979, p. 205)
Kendall está correto em afirmar que a terceira premissa em 18.2 não é explicada, mas não é exato em sugerir que nenhum dos teólogos da Confissão afirmou o tipo de testemunho direto que John Cotton defendeu.
Os teólogos de Westminster sabiam que o testemunho do Espírito Santo a respeito da segurança foi o ponto mais difícil de se compreender. Eles livremente confessaram aquela “maravilhosa variedade” e vastos mistérios que os cercavam quando eles falavam sobre a liderança do Espírito e como ele habita nos crentes. Uma razão significativa da assembleia não ter detalhado mais especificamente sobre o que é a segurança do testemunho do Espírito foi admitir a liberdade do Espírito em Seu seguro testemunho. Outro motivo interligado foi o desejo da assembleia em admitir a liberdade de consciência dos teólogos presentes que divergiram em suas opiniões a respeito de alguns delicados detalhes do testemunho do Espírito. Estes podem ser relegados a três grupos.
No primeiro grupo estão aqueles teólogos, como Jeremias Burroughs, Anthony Burgess, e George Gillespie, que a respeito da terceira premissa [o testemunho do Espírito de adoção testemunhando com nossos espíritos que nós somos filhos de Deus] como peça e parcela da segunda premissa [a evidência íntima daquelas graças sobre as quais essas promessas são feitas]. Isso quer dizer que eles consideram o testemunho da testemunha do Espírito Santo em garantia como referindo-se exclusivamente à Sua atividade no âmbito dos silogismos, pelo qual Ele leva a consciência a unir-se com o testemunho dEle de que o Cristão é um filho de Deus. De acordo com essa opinião Romanos 8.15 e 8.16 são considerados como sinônimos: o testemunho do Espírito Santo é sempre conjugado com o testemunho do espirito do crente. Para esses teólogos, a desagregação das secundárias bases de segurança é realmente não-existente, já que a evidência íntima da graça e o testemunho do Espírito são essencialmente um. Os silogismos são “total” confiança. Em cada caso, esses teólogos sentiram que essa opinião era importante para manter oposição ao misticismo e antinomianismo que são propensos a destacar um testemunho direto do Espírito destituído da necessidade de levar ao arrependimento e aos frutos da fé.
No segundo grupo estão aqueles teólogos (como Rutherford, Twisse, Scudder, e Goodwin) que acreditam que o testemunho do Espírito descrito em Romanos 8.15 contem algo adicional ao versículo 16. Este grupo diferencia o testemunho do Espírito com o espírito do crente por silogismos de Seu testemunho ao espírito do crente com aplicações diretas da Palavra. Como Meyer aponta, o primeiro deixa em seus termos a convicção autoconsciente, “Eu sou um filho de Deus,” e na base deste silogismo feito pelo Espírito encontra liberdade de aproximar-se de Deus como Pai. O último fala do pronunciamento do Espírito em nome do Pai, “ Você é um filho de Deus,” e nessa base de ouvir de sua filiação da própria palavra de Deus pelo Espírito, prossegue em aproximar-se dEle com a familiaridade de um filho. A desagregação de Henry Scudder do testemunho do Espírito é típico deste segundo grupo:
O Espírito testifica a um homem, que ele é filho de Deus, de duas formas: primeiro, pelo testemunho direto e sugestão. Segundo, pela dedução necessária, por sinais dos frutos infalíveis do Espírito (Henry Scudder, The Christians Daily Walk, p.338)
Este segundo grupo diverge entre eles se o testemunho direto do Espírito deveria ser considerado como mais espontâneo, durável e poderoso do que o Seu testemunho silogístico. A abordagem mais comum é semelhante a de Rutherford que admite o testemunho direto, mas então destaca que o ato reflexo da fé é como uma regra “mais esperançoso e espiritual” do que são os atos diretos. Consequentemente, todos os crentes deveriam estar orando regularmente pela iluminação do Espírito para guiá-los às conclusões silogísticas. Twisse e Scudder caracterizam o testemunho do Espírito com nosso espírito de Seu testemunho da adoção pessoal  sem determinar qual seja mais valiosa. Goodwin diz que, entretanto, o testemunho direto do Espírito de longe ultrapassa o co-testemunho através de silogismos. Para ele, “total” segurança é mais que discursivo; é mais intuitivo. De modo geral, todavia, esse segundo grupo não concebe o testemunho direto do Espírito como sendo independente dos silogismos, mas como “super-acrescentado” a eles. Eles concordam que o modo silogístico de alcançar confiança é mais comum e provavelmente segura: “Alguns teólogos na verdade não negaram a possibilidade de um Testemunho imediato, mas eles concluíram que o modo ordinário e seguro é buscar por aquele Testemunho dos efeitos e frutos do Espírito de Deus.
O terceiro grupo, que pode ser considerado como um subconjunto do segundo teologicamente, coloca o evento da “imediata” confiança pelo testemunho direto do Santo Espírito em um alto nível. Alguns teólogos de Westminster, como William Bridge e Samuel Rutherfordpertencentes ao segundo grupo, acreditam que tal confiança se torna parte de muitos Cristãos antes deles morrerem. Outros, entretanto, como Thomas Goodwin, influenciado pela Segunda Reforma Alemã e a tradição Cotton-Preston no Puritanismo, coloca essa experiência bem acima do pálido crente ordinário. Na verdade, Goodwin declara que a experiência da total confiança pronunciada “imediatamente” pelo Espírito é tão profunda que é comparável a “uma nova conversão”. Pois para Goodwin essa “total” confiança é o ápice da vida experimental. Ao contrário da posição adotada pela maioria do segundo grupo, tal confiança está inteiramente divorciada dos silogismos:
Este testemunho é imediato, ou seja, não estabelece seu testemunho sobre coisa nenhuma em nós; não é um testemunho obtido pelo homem, ou da obra do Espírito no homem, como foram as demais; pois o Espírito não fala pelos seus efeitos, mas fala de si mesmo (The Works of Thomas Goodwin, 8:366)
Goodwin repetidamente usa terminologias como luz imediata, alegria indizível, transcendente, gloriosa, e intuitiva ao descrever a experiência da total confiança. Na verdade, está acima de ser descrito:
Aqueles que tenham alcançado isso não podem demonstrá-lo a outros, especialmente aos que não o experimentaram, pois é uma pedra branca que ninguém conhece mas aquele que o recebe, Ap. 2.17 (The Works of Thomas Goodwin, 8:351).
Teólogos alemães e ingleses com frequência tem denominado tal “experiência transcendente” como “justificação no tribunal da consciência” que enfatiza ser declarada perdoada pelo Pai e sendo selada pelo Espírito na plena restauração com Deus. Por motivos descritivos, era comum também falar em termos de um envolver da experiência mútua entre Deus como Pai e o crente como a criança maravilhada.
Como escreve Petrus Immens:
O outro pode ser chamado extraordinário [i.e., em relação a segurança ordinária obtida através do silogismo] e é experimentada quando Deus… manifesta sua satisfação neles, revelando a eles que ele os vê como filhos de seu amor e tendo alegria neles… O crente é inundado com um senso do divino amor. Agora Jesus o toma em seus braços e o abraça; agora lhe dá um selo como uma evidência dele ser um filho de Deus… Nesse momento o Espírito transmite um pleno esplendor de conhecimento que o faz contemplar claramente a glória do Senhor e o deixa extasiado com a reluzente visão ante a ele… Nesse momento o Espírito remove o véu para que o crente tenha ele mesmo uma visão do céu, como o lugar ditoso onde ele habitará para sempre, e obtém uma prelibação daquela felicidade que é reservada para ele após a sua morte (The Pious Communicant Encouraged, pp.95, 96, 104,15)
Em todos os sentidos, entretanto, esses três grupos estão unidos ao declarar que o testemunho do Espírito é sempre ligado, e nunca contradiz, a Palavra de Deus. “O Espírito é prometido na Palavra, e essa promessa é cumprida na experiência. Todos os teólogos de Westminster são muito prontos em evitar o antinomianismo de um lado, e por outro lado também em proteger a liberdade do Espírito.
Em suma, para os teólogos da Assembleia de Westminster, todas as três bases de 18.2 – fé na promessas de Deus, íntima evidência da graça, e o testemunho do Espírito – devem prosseguir  como providência concreta de garantia pela graça de Deus. Se qualquer dessas bases for indevidamente enfatizada a custa dos demais, o completo ensino da garantia torna-se desiquilibrado ou até perigoso. Nenhum Puritano da estatura dos teólogos da Assembleia de Westminster ensinaria que a segurança é obtida por confiar apenas na promessa, pelo autoexame apenas, ou somente pelo testemunho do Espírito. Ao invés disso, os Puritanos ensinaram que o crente não pode verdadeiramente confiar nas promessas sem o auxílio do Espírito Santo, e que ele não pode olhar para si mesmo com segurança sem a iluminação proporcionada pelo Espírito. Embora o Puritanismo dos teólogos da Confissão tenha dado aos silogismos um papel mais intrínseco à garantia e deram maior ênfase a eles do que Calvino deu, as promessas de Deus continuaram a ser consideradas como a primeira base para a garantia.
Em cada ponto da verdadeira garantia, a atividade do Espírito é essencial. Sem a aplicação do Espírito, as promessas de Deus levam ao autoengano e vidas infrutíferas. Sem a iluminação do Espírito, o auto exame tende a introspecção, a escravidão, e legalismo. O testemunho do Espírito, divorciado das promessas de Deus e do exame da Escritura, inclina-se ao misticismo não bíblico e ao emocionalismo excessivo. Assim, para a WCF, esses três grandes linhas pertencem uma à outra (Joel Beeke, Assurance of Faith, pp. 169-173).
A Sessão da Igreja Puritana Reformada acredita que o equilíbrio e a abordagem de consenso tomada pelos teólogos de Westminster nesse tópico permite uma sábia e aceitável diversidade de opinião em nosso pactuada  união doutrinária e uniformidade da prática. Na luta contra o excessivo e místico Antinomianismo por um lado, e contra um pecaminoso e não escriturístico limite da liberdade do Espírito do outro, nós mantemos que cada uma das três proposições registrada na WCF 18:2 devem ser entendidas como uma única-unidade não sendo enfatizada indevidamente uma sobre a outra. Como o Sr. Beeke corretamente declarou “Em todos os sentidos, entretanto, esses três grupos estão unidos em assegurar que o testemunho do Espírito é sempre ligado, e nunca deve contradizer, a Palavra de Deus.“ Consequentemente, aqueles que fazem uma abordagem mais objetiva e aqueles que consideram o trabalho do Espírito como tendo um proeminente e direto papel na garantia da fé de um crente podem juntos permanecer nos grupos concordes quanto ao âmbito dos argumentos ortodoxos desse trecho da Confissão. Quaisquer que sejam as diferenças que possamos enfatizar em relação aos meios pelos quais nós podemos saber que temos vida eterna, nosso acordo consiste no fato que nossa garantia é uma infalível garantia proporcionada por essas três proposições que trabalham em harmonia não totalmente excluída.
Estas coisas vos escrevi para que saibais que tendes a vida eterna, a vós que credes no nome do Filho de Deus ( 1João 5.13)
Isto é também relevante para nossa pergunta a respeito da revelação extraordinária desde o fechamento do cânon da Escritura. Devemos reconhecer que alguma ênfase e diversidade de opinião podem existir nos argumentos ortodoxos, especialmente onde nossa limitada percepção do trabalho secreto do Espírito de Deus está envolvido. Não iremos facilmente ser apanhados requerendo que o julgamento de meros homens coincida em todas as minúcias, conquanto guardemos que o Espírito de Deus falando em Sua Palavra é o julgamento final da controvérsia. Como os teólogos acima sabiamente demonstraram, às vezes é suficiente concordar com argumentos mais gerais enquanto se permite uma diversidade de ênfase concernente ao particular meio usado por Deus na realização seu glorioso propósito. Isto deve ser mantido em mente através de toda essa discussão.
Agora prosseguimos com a terceira categoria de Rutherford da revelação interna de alguns fatos peculiares a homens piedosos:
  1. Existe uma 3ª revelação de alguns homens em particular, que prenunciaram coisas que viriam a acontecer mesmo depois do encerramento do cânon da palavra, como John Huss, Wycliffe, Lutero que falaram sobre coisas que aconteceriam, e elas certamente sucederam. E, em nosso país, a Escócia, o Sr. George Wishart profetizou que o Cardeal Beaton não passaria vivo pelos portões do Castelo de St. Andrews, mas que ele sofreria uma morte vergonhosa, o que aconteceu. O Sr. Knox profetizou sobre o enforcamento do Lord of Grange. O Sr. John Davidson profetizou, conhecido por muitos do reino, diversos santos e torturados pregadores na Inglaterra fizeram o mesmo (Samuel Rutherford, A Survey of Spiritual Antichrist, 1648, p.42)
A posição de Rutherford é clara o bastante. Ele francamente afirma que a revelação extraordinária ocorreu mesmo após o fechamento do cânon.
Finalmente, Rutherford ataca o excesso e abuso dos heréticos de seus dias enquanto descreve sua quarta e final categoria de revelação interna – falsa e satânica revelação.
  1. Nenhum Familista ou Antinomianos – nem David George, ou H. Nicholas, nenhum homem daquele grupo, Randel ou Wheelwright, ou Den, ou qualquer outro – que eu tenha ouvido, sendo dedicado ao caminho familístico, nunca prenunciaram nada, mas uma quarta espécie de mentiras e falsas inspirações. A Sra. Hutchison disse que ela teria um miraculoso livramento no Tribunal de Boston tal qual Daniel teve dos leões, o que se provou falso. Becold profetizou da libertação da cidade de Munster que foi entregue aos seus inimigos, e ele e seus profetas torturados e enforcados. David George profetizou da sua própria ressurreição, o que nunca se cumpriu (Samuel Rutherford, A Survey of Spiritual Antichrist, 1648, p.42);
Rutherford agora se volta para o coração de nossa pergunta já que ele diferencia revelação extraordinária de alguns fatos peculiares a homens piedosos e falsas e satânicas revelações.
            Agora em relação as diferenças entre a terceira e quarta revelações, eu digo que:
  1. Estes dignos Reformadores não levaram nenhum homem a crer em suas profecias como escrituras. [Esta informação é primordial e deve ser mantida em todas as circunstâncias-PRCE]. Devemos dar crédito as predições dos profetas e apóstolos, profetizando coisas que viriam a acontecer, como verdadeira palavra de Deus; eles [os reformadores-PRCE] nunca consideraram a si mesmos como organismos imediatamente inspirada pelo Espírito Santo, como os profetas fazem, e Paulo fez, Rm 11, profetizando o chamado dos Judeus; Ap 1.10, e por todo o livro. Ainda, eles nunca condenaram aqueles que não acreditaram em suas predições, desses fatos e eventos particulares, sendo esses fatos e eventos particulares, como os profetas e apóstolos fizeram. [Aqui Rutherford coloca essas predições em uma classe inferior do que o profetizar daqueles imediatamente inspirados pelo Espírito Santo. Os homens não são dados a acreditar neles, e nem são os homens que duvidam condenados ou disciplinados – elas não são uma regra obrigatória ou compulsória – PCRE]. Mas a Sra. Hutchison disse (Levante, Reine, 61, art 27): Que suas particulares revelações sobre eventos futuros eram infalíveis como qualquer Escritura, e que ela é obrigada a crer nelas como Escritura, pois o mesmo Espírito Santo é o autor de ambos. Familistas tomam a palavra pregada como cartas ou o bom evangelho. Temos isso como carta e sã pregação, já que contempla ser: testemunhar Cristo e todas as suas promessas, do ouvir o bom evangelho que trabalha muitos anos após ter sido pregado; e a palavra pregada muito tempo atrás pode ser despertada por uma triste aflição, uma inspiração de Deus, e produz o trabalho da conversão, e ainda é a palavra da verdade na Escritura que produz fé e é a mesma semente que repousa muitos meses debaixo da terra e cresce e produz fruto. E sabemos que Antinomianos rejeitam as Escrituras e constroem sobre as revelações internas, como suas compulsórias e obrigatórias regras.
  1. Os eventos revelados às testemunhas piedosas e ouvintes de Cristo não são contrários a palavra. [Esta é outra regra invariável-PRCE]. Mas Becold, John Mathie e John Schykerm (que matou seu irmão sem motivo) e outros entusiastas daquele assassinato pelo espírito de Satanás, que matou homens inocentes, expressamente contra o sexto mandamento, Não Matarás; e ensinou os Camponeses da Alemanha a se levantarem e a matar todos os magistrados, porque eram magistrados; sob o pretexto de incentivos e inspirações do Espírito Santo foram mobilizados contra a palavra de Deus. Todos os Reformadores piedosos previram o fim trágico dos proclamados inimigos do evangelho; nem iria o Sr. Wishart comandar ou aprovar que Norman e John Leslie devessem matar o Cardeal Beaton como fizeram.
  1. Eles tinham um preceito geral junto com aquela maligna caçada ao homem perverso: só um inofensivo mistério, senão um extraordinário forte impulso, ou um espírito da Escritura a os guiar, os conduziu a aplicar um preceito geral de justiça divina, no que previam, a particulares homens ímpios, e eles mesmos sendo apenas preditores, não coparticipantes do ato. [Rutherford define o tipo válido da revelação extraordinária como ‘um forte impulso’ ou ‘espírito da escritura guiando-os’. É notável que ele deixa claro e condena a ideia de que essas profecias são imediatamente inspiradas. Parece que Rutherford alega que o Espírito de Deus extraordinariamente exercita a intuição do homem e de predisposição Escritural a informá-lo dos eventos futuros fazendo o homem aplicar preceitos gerais de justiça divina, ao invés de comunicar essa informação diretamente por uma voz audível ou visão. A explicação de Rutherford é segura e plausível, mas por causa da natureza insondável da real dinâmica envolvida não é necessariamente conclusiva –PRCE].
  1. Eles [os Reformadores – PRCE] eram homens sólidos na fé ao contrário do Papismo, Prelazia, Socianismo, entusiastas sem lei, Antinomiano, Arminianos, Arianismo e tudo o que é contra a sã doutrina. Disso sendo todos estes carentes, eles estão nesse quarto tipo de revelações, não podemos julgá-los exceto como de índole satânica. [Aqui uma outra regra geral é proposta. Aqueles que clamando à profecia, e sendo frágeis na doutrina e prática, definitivamente não devem ser considerados como sendo guiados pelo Espírito de Deus em suas predições – PRCE].
  • Eles não são puros e inofensivos; mas empurram homens para as sangrentas e perversas práticas proibidas por Deus. Embora Deus tenha ordenado a Abraão matar seu filho, testando sua obediência, Deus o conteve, e não o deixou agir como lhe pediu. Esses outros na verdade matam inocentes sob o pretexto do incentivo do Espírito.
  • Eles não tem nenhum preceito da Palavra para os apoiar, e se eles orientam homens a se abster da lei e testemunho é porque não há nenhuma luz neles, Is 8.20.
  • Estas revelações são de homens de mentes podres e corrompidas, destituídos da verdade se opondo e sendo destrutivos à santificação.
  • Eles afirmam que as Escrituras são imperfeitas, manca e um catálogo feito pelo homem, ao contrário do que dizem as Escrituras Sl 19.7-9; II Tm 3.15-16; Lc 16.30-31; João 20.30-31; At 26.22; Sl 119.105, etc
  • Então a escritura não deveria decidir todas as verdades controversas, e nem ser aquela pela qual encontramos a verdade e a regra que prova os espíritos, se são de Deus ou não, contrário a 1 João 4.1; 1 Ts 5.21; e contrário ao exemplo dos nobres Bereanos que provaram a doutrina de Paulo pelas escrituras, At 17.11.
  • O emocionante toque de Cristo ao coração, agradáveis alentos do fôlego de Deus em sua Palavra; o toque do diabo é um estúpido toque e sem vida, sendo destituído da palavra da verdade.
  • Os homens agem de acordo com seus próprios espíritos, e andam na luz de sua vontade, não havendo fim dos pecados e errantes de Deus quando agem sob nenhum conhecido preceito da palavra (Samuel Rutherford, A Survey of Spiritual Antichrist, London, 1648, p. 43,44).
A seguir citamos um trecho de James Durham em Commentary upon the Book of the Revelation.
Fala-se muito sobre profecias neste livro (Apocalipse), e profetas, capítulo 11; e Jezabel, o capítulo 2 é reprovado por citar o nome dela como profetiza. E, aqui, o reavivamento da profecia fala deste capítulo. Então, pode-se indagar como esses pontos são explicados? E se profetizar deve ser esperado hoje na igreja? Ou, será que este dom cessou completamente? Ou em qual aspecto? 
Consideramos profecia e profetas em tríplice aspecto: 
  1. Em respeito a maneira como é apresentada: 
  • Alguma verdade geral não formalmente revelada na Palavra. Ou,
  • Alguma em particular, contrária ao que é formalmente revelado lá, tanto na doutrina como prática. Deste tipo pode ser os israelitas tomando as joias, Abraão levando seu filho para o sacrifício, e muitas práticas que não podem ser condenadas, embora não concorde com os preceitos que estão na Palavra para a direção do povo de Deus. Ou,
  • Algo particular, tanto não formalmente revelado como não em si mesmo contrário à palavra, mas que se refere a algum evento em particular, ou tarefa pessoal.
  1. Podemos considerar novamente como é discorrido uma ordinária ou extraordinária forma, como essas coisas ou qualquer outra coisa vem a ser conhecida, apesar do fato de ser uma verdade formalmente revelada na Palavra, tal como o fato revelado a estes profetas, 1Co 14, que era para ser provado pela Palavra.
  1. Pode ser considerado, em respeito ao propósito do que é revelado a outros, ser uma direção ou orientá-los na prática, e quer seja pelo registro disso como Escritura, como alguns dos profetas do passado fizeram, ou por assumir um ofício ou autoridade, e pela virtude em fazê-lo. Ou de que forma nós devemos responder essas alegações.
Afirmação 1. Não existe mais dom de profecia, quer seja para apresentar qualquer verdade formalmente entregue, nem nenhum dom para justificar algo em particular, condenado na palavra, tal como tomar os bens de outros, vida, acampamento, etc., como para ser justificativa de revelação de coisas do contrário ilegais, tal como parece antigos homens de profecia foram em algumas de suas práticas, que para nós não são precedentes para nossa justificativa; o que parece,  
  • Porque agora a palavra está completa, preenchida com verdades, para fazer o homem de Deus perfeito para toda a boa obra, e isto em respeito a última administração da aliança; por esse motivo, não há permissão para nenhum novo assunto. 
  • Porque, se qualquer outro evangelho, ou funções, contrário a esta Palavra que recebemos, for pregada, não devemos recebe-la, mas considerar como maldito quem o apoia, sob qualquer que seja o pretexto que ele o faça, mesmo sendo um anjo; e isto não deixa lugar para admitir nenhuma verdade, ou funções, contrárias à Palavra. 
  • A penalidade [ameaça – PRCE] no final deste livro [Apocalipse-PRCE], capítulo 22, confirma isto, sendo pela mesma razão contra o acréscimo, ou a subtração das Escrituras em geral, ou em qualquer parte delas, como existe em referência a este livro, sendo todas elas da mesma autoridade, contudo não é sem ônus acrescentado a este ao encerrar tudo. 
  • Os dons de profecias tendo já em geral cessado, como depois será claro, e o Senhor tendo pensado mais mediatamente e solidamente, conforme é designada uma palavra mais firme de profecia, 2 Pe 1.19, para nutrir sua igreja pela Sua Palavra; e tendo Ele agora dado muito mais Escritura sob o evangelho e sob a lei, para suprir o anseio de profetas imediatamente inspirados; e considerando como raros são os exemplos do chamado de Deus para funções aparentemente contrárias às ordens morais, e dos absurdos que se seguiriam, se agora algum tal dom seja pretendido em menção a tal assunto. Acreditamos consequentemente seguro e necessário concluir que agora há, após a reforma (Hb 9.10) nenhum dom de profecia, ou profetas, a ser pretendido ou admitido, que acrescente qualquer nova verdade à palavra, ou ordenar qualquer nova função contrária a esta, arrogando a eles mesmos, ou impondo algo como função sobre outros, o que os termos morais da Palavra não permitem; e é confirmado por isto que somos ordenados a provar os espíritos; e até as revelações de profetas extraordinários, 1Co 14, eram para ser provadas e julgadas: não por qualquer norma, mas pela Palavra. Segue-se, portanto, que nenhuma revelação, que contenha qualquer coisa de contrário à Palavra, é para ser admitida ou recebida como do Espírito do Senhor.
Afirmação 2. No entanto, não é para se negar totalmente, mas que o Senhor pode, de forma particular, algumas vezes, revelar-se a alguém profetizando eventos antes que eles ocorram, tal como a fome que Ágabo profetizou, ou a prisão de Paulo; tal como a história que santos e mártires algumas vezes mencionam: particularmente Atanásio frequentemente alertado dos perigos, como está registrado, e em verdade não pode ser negado; e desse tipo existiram muitos que no reanimar da luz do evangelho, se tornaram famosos ao predizer eventos particulares, como as predições de John Huss, que cem anos depois dele resultariam na deflagração da Reforma; como este foi possivelmente Jeronimo de Savonarola que foi queimado pelo Papa, não como se simulou por predizer eventos, como por meios ilegais o acusaram, mas por legitimamente reprovar os erros deles como descreveu Philip de Cumius e outros autores. Semelhante foram  Wishart, Knox, Welch, Davidson, etc… e isso não pode ser totalmente invalidado, embora Deus tenha fechado o cânon da Escritura, mas que ele seja limitado em sua liberdade de manifestar-se, não há nenhuma base convincente que sustente isso, especialmente quando a experiência frequentemente provou o contrário por muitos homens santos.
Ainda, (1) Isso não é habitual ou ordinário a ninguém, mas é singular em algumas épocas, e em poucos casos.
(2) Toda persuasão da mente antes que o evento ocorra, e responsivamente quando isso vier ocorrer, não será suficiente para ser transmitida como uma presciência profética.
(3) Isso não denominará alguém como profeta, embora em alguns eventos particulares, Deus possa usar disso para si.
(4) Nem poderá tais predições garantir a ninguém a fazer algo como função.
(5) Existe diferença a ser feita entre a simples predição de um evento, que pode ser de Deus, e uma conclusão que pode ser tirada dela; que pode ser de nós mesmos, o que podemos ver das profecias em Atos 21 [vs. 11- PRCE], sobre o aprisionamento de Paulo em Jerusalém, embora não fosse para desviá-lo de ir para lá, como muitos entenderam, logo aquilo não era de Deus dada a resolução de Paulo em ir,  toda semelhante profecia não pode ser colocada como uma norma visto que Deus deva ter outra boa experiência, anúncio e confirmação nela. E não vamos achar que ninguém tenha feito usos de tais particulares revelações como forma de impor uma norma aos outros, isso não seria justificável, embora quando se associe com outros embasamentos possa ter o peso de equilibrar-se em coisas legítimas.
Afirmação 3. Profecia como para uma revelação imediata de mistérios e verdade do evangelho, como a de I Co 14, e que era frequente na época dos apóstolos, já cessou; e não mais existe tal dom e nem tal ofício: 
  • Não existe tal dom, daí que não é comum a todos os renovados, também não era nos dias dos apóstolos; existia diversidade de dons; e este dom é distinto da graça salvadora, I Co 12 e 14, etc., e nem naquele particular o dom de profecia continuou, nem outro dom continuou como o de cura, línguas e interpretações por quais os homens possam de imediato passar a exercitá-los. E,
  • A experiência mostra que isso passou, e Deus chama os homens a usar de meios ordinários para alcançar o conhecimento da sua vontade, e não existindo agora nenhum dom que suportará julgamento, por conseguinte não há tal ofício a ser pleiteado, na verdade, esses profetas, quanto ao assunto profetizado por eles, deveriam ser provados pela palavra e julgados, e o dom, se na verdade foi uma revelação, 1Co 14. Não havendo quem possa dar essa prova, nós não iremos ao menos sem isso, reconhecer tal dom, ou tal ofício.
Afirmação 4. Mas, se tomamos a profecia como compreensão da mente de Deus, e familiarizar-se com os mistérios de Deus, por um modo mediato, sim, e isso para além dos meios aplicados, ou como um dom e a capacidade para discernir essas coisas com poucos cuidados, e acima do que alguns outros podem obter sem nenhum esforço, nós entendemos que nesse sentido pode-se dizer que profecia e profetas continuam na igreja, e que Deus levantou no tempo da Reforma homens singularmente presentados com um espírito profético, o que pode ser o cumprimento do que foi profetizado nesse capítulo [Ap 10].
Afirmação 5. Nenhum dom de profecia pode agora garantir autoritativamente a ninguém a estabelecer sua percepção, embora verdadeira, como escritura canônica, ou como igual autoridade, aos escritos de Moisés, etc., e outras escrituras, como foi declarado na primeira afirmação, embora alguém em razão de seu dom possa justificar ou genuinamente abrir estas escrituras pela escrita como pela palavra.
Afirmação 6. Nenhum dom pode assegurar que alguém por si mesmo assuma o ofício de pregador oficial, muito embora, em alguns casos, a mente de Deus extraordinariamente seja revelada a ele, porém não é o dom que dá a autoridade de um ofício, mas a missão autorizada de Deus, de outra forma as filhas de Filipe poderiam ser oficiais na igreja e ter autorização para pregar e ensinar, o que o Novo Testamento não admite, ainda que fale desse dom de profecia 1 Co 14, e regulamenta a pratica dos profetas extraordinários, daí que essa inibição é suposta, e mais ainda, mesmo naquele tempo remoto, provava-se os dons e espíritos pelos profetas antes que algum fosse considerado como tal: aliás, a alguém pode ser revelado um evento particular, a alguém menos familiarizado com o mistério do evangelho do que outros, que pela bênção de Deus alcançou conhecimento de forma ordinária, e se não pode assegurar tal ofício, também não se assegura nesse caso: não existe agora nenhum profeta por chamado imediato.
Afirmação 7Dizemos que Deus pode prover alguém mais do que da forma ordinária, e ele pode e usa de maneira mista o exercício desses para a edificação de sua igreja, e fazer o selamento do seu chamado extraordinariamente confirmando o seu envio a eles, que é, Ele pode prover homens por meio de, e especialmente por suas bênçãos, extraordinariamente os acompanhando, parcialmente de forma mediata, por homens que abrem espaço, parcialmente por seu lançar mais que ordinário, compondo o que era insuficiente em seu chamado mediato, por algumas extraordinárias concordância de dons e estímulos de circunstâncias sem disposição, e de eficácia e aceitação disso entre outros pelo qual é confirmado. Isto o Senhor cumpriu no começo da Reforma, levantando homens comparativamente, extraordinariamente providos e comissionados para Sua obra, ministros do mesmo evangelho que andavam com outros de acordo com a regra comum em suas obrigações ministeriais; isso não é para ser imediato, mas onde foi o caso, chamado e circunstâncias concorrem, e assim o Senhor incitou  homens na época da Reforma a desenvolver a sua obra, que não eram profetas extraordinários, ou oficiais, ou Levitas, nem ordinariamente chamados magistrados, como Neemias, Esdras e outros que diferente de Ageu, Zacarias e tais que foram apropriadamente chamados profetas de um lado, Josué, Zorobabel e os que por outro lado foram chamados ordinariamente e apropriadamente sacerdotes e magistrados, o que em condições ordinárias e estabelecidas  não foi feito (James Durham, Commentary upon the Book of Revelation, Glasgow, 1788 edition, citado from SWRB bound photocopy, Vol 2, pp. 219-224).
Nós, como uma sessão de acordo com cada uma das regras gerais e afirmações acima enunciadas por esses dignos reformadores.
Qual é o ensinamento bíblico específico que fundamenta e justifica o que esses homens de Deus fizeram? Por que eu deveria acreditar que revelações extrabíblicas ainda podem ocorrer?
Não é uma questão de princípio regulador. Portanto, a nosso ver, não há necessidade de se encontrar um mandamento específico, ou uma inferência válida, nem um exemplo comprovado a fim de justificar tal posição. Entretanto, uma breve discussão desse assunto pode ser útil na demonstração de nosso raciocínio.
I. Ordem ou proibição específica
Não se tem conhecimento de um mandamento específico que requeira o uso de profecia (i.e., da prática de prever o futuro) nos dias atuais. Em contrapartida, também não há nenhuma proibição expressa quanto ao uso da mesma.
II. Inferência Válida
Uma passagem bíblica relevante que sugere a prática de profetizar extrabiblicamente (i.e., predizer determinados acontecimentos e juízos de Deus sobre os ímpios) numa época posterior à conclusão do Cânon das Escrituras é o texto de Apocalipse 11.3, no seguinte contexto:
Foi-me dado um caniço semelhante a uma vara, e também me foi dito: Dispõe-te e mede o santuário de Deus, o seu altar e os que naquele adoram; mas deixa de parte o átrio exterior do santuário e não o meças, porque foi ele dado aos gentios; estes, por quarenta e dois meses, calcarão aos pés a cidade santa. Darei às minhas duas testemunhas que profetizem por mil duzentos e sessenta dias, vestidas de pano de saco. São estas as duas oliveiras e os dois candeeiros que se acham em pé diante do Senhor da terra. Se alguém pretende causar-lhes dano, sai fogo da sua boca e devora os inimigos; sim, se alguém pretender causar-lhes dano, certamente, deve morrer. Elas têm autoridade para fechar o céu, para que não chova durante os dias em que profetizarem. Têm autoridade também sobre as águas, para convertê-las em sangue, bem como para ferir a terra com toda sorte de flagelos, tantas vezes quantas quiserem. Quando tiverem, então, concluído o testemunho que devem dar, a besta que surge do abismo pelejará contra elas, e as vencerá, e matará” (Apocalipse 11.1-7).
Esse texto afirma que as duas testemunhas vão profetizar por um período de 1260 anos, tempo esse que deve ser entendido como um período posterior ao encerramento do cânon das Escrituras. Essas duas testemunhas, personagens simbólicos que exibem a pessoa moral da Igreja mística de Cristo, vão profetizar a ponto de impedir a chuva, converter as águas em sangue e infligir pragas sobre a Terra no momento em que quiserem.
David Steele comenta o seguinte:
As testemunhas profetizam por 1260 anos. Contudo, se nenhum indivíduo vive por tanto tempo, deve-se supor que ocorra uma sucessão. Na realidade, essas testemunhas são personagens místicos cujos verdadeiros homólogos se encontram, de fato, na história (David Steele, The Two Witnesses, Apêndice H, p. 315, citado do livro Notes on the Apocalypse, prestes a ser publicado).
As testemunhas são uma quantidade apropriada de cristãos que, durante 1260 anos, insistem na aplicação da Palavra de Deus à Igreja e ao Estado, além de testemunharem contra todas as comunidades que se rebelam contra Cristo, o Senhor (Notes on the Apocalypse, p. 133).
Steele salienta que os mesmos recursos concedidos aos Profetas do passado estão garantidos para as duas testemunhas por promessa do Espírito Santo. À semelhança de Moisés e Elias, essas duas testemunhas testificam da verdade e combatem o erro. Pela fé, essas testemunhas recebem os dons necessários para realizar grandes coisas sobre a terra. É nesse sentido que as Escrituras declaram que a atividade profética dessas testemunhas (i.e., tanto seu testemunho comum quanto seu testemunho extraordinário ou sobrenatural) pode impedir a chuva, converter as águas em sangue e ferir a Terra com pragas. Pelo poder de Deus, autenticando suas palavras e atos, essas duas testemunhas (ou seja, essa “… quantidade apropriada de cristãos que, durante 1260 anos, insistem na aplicação da Palavra de Deus à Igreja e ao Estado, além de testemunharem contra todas as comunidades que se rebelam contra Cristo, o Senhor”) conduzem os crentes fiéis à terra da promessa, reduzem a nada os “Faraós” e “Acabes” que se levantam contra a verdade, e, por fim, testificam que o juízo de Deus exterminará o Anticristo:
Em segundo lugar, essas duas testemunhas, no exercício do seu direito de profetizar, contam com a promessa do Espírito Santo! Não se assuste, meu caro e sincero leitor, pois não tenho aqui a intenção de pleitear nenhuma adição à nossa Bíblia, nem de criar qualquer nova regra de fé e prática. Entretanto, essas testemunhas precisam ser homens cheios “… de fé e do Espírito Santo…, do contrário, estariam absolutamente desqualificadas para a obra que lhes foi designada. Portanto, assim como Abel, Moisés, Elias e Estevão tiveram a capacitação para cumprirem a obra que lhes foi atribuída, essas duas testemunhas têm os mesmos recursos garantidos na promessa (The Two Witnesses, p. 341).
“… porque eu vos darei boca e sabedoria a que não poderão resistir, nem contradizer todos quantos se vos opuserem” (Lucas 21.15).
“… por minha causa sereis levados à presença de governadores e de reis, para lhes servir de testemunho, a eles e aos gentios. E, quando vos entregarem, não cuideis em como ou o que haveis de falar, porque, naquela hora, vos será concedido o que haveis de dizer, visto que não sois vós os que falais, mas o Espírito de vosso Pai é quem fala em vós” (Mateus 10.18-20).
Steele sabiamente se protege contra essa interpretação de que o ato de profetizar, referido em Apocalipse 11.3, seja prontamente inspirado e esteja em pé de igualdade com a Bíblia. Ao invés disso, ele afirma que a natureza da profecia enunciada pelas duas testemunhas consistia na aplicação das predições e princípios gerais, já existentes nas Escrituras, aos objetos apropriados. Isso está de acordo com a declaração feita por Rutherford, quando tratou das previsões extrabíblicas de John Huss, Wycliffe, Lutero, entre outros:
Eles sustentavam um princípio geral de que o mal persegue o perverso; somente um ímpeto extraordinariamente forte, ainda que discreto e inofensivo, ou um espírito dominado pelas Sagradas Escrituras, podia conduzí-los e fazer com que, nas suas predições, aplicassem o princípio geral da justiça divina a determinados homens ímpios, sendo eles mesmos apenas previsores do ato de juízo, não co-participantes desse ato (Samuel Rutherford, A Survey of Spiritual Antichrist, Londres, 1648, p. 43, 44).
Durham também anui a esse ponto de vista, ao dizer:
Contudo, se entendemos profecia como a compreensão da mente de Deus e como o alcance de uma boa familiarização com os mistérios de Deus, de uma forma mediada; sim, e que além dos meios empregados ou de se ter um dom e capacidade de discernir essas coisas com pouco esforço; além daquilo que outros possam chegar a alcançar por qualquer esforço, nossa concepção é a de que nesse sentido, pode-se dizer que profecia e profetas continuam a existir na igreja, de modo que esse Deus, tão grandioso, suscitou, na época da Reforma, homens dotados singularmente de um espírito profético, no sentido a que nos referimos, os quais podem ter sido o cumprimento do que foi profetizado nesse capítulo de Apocalipse [Rev. 10-PRCE] (James Durham, Commentary upon the Book of Revelation, Glasgow, edição de 1788, citado de SWRB, fotocópia encadernada, vol. 2, p. 223.
Nas citações, a seguir, nota-se que Steele também se coloca contra a concepção de que a profecia extrabíblica das duas testemunhas seja “inspirada” no sentido formal desse termo:
Essas testemunhas “profetizam”, não na condição de revelação “inspirada por Deus”, mas, sim, devido ao fato de que elas, e somente elas, aplicam as predições já existentes aos objetos apropriados, à medida que recebem luz daquele que é “a luz do mundo” (David Steele, Notes on the Apocalypse, p. 132).
Nunca percamos de vista o fato de que essas testemunhas não param de profetizar, ou seja, de aplicar as Escrituras Sagradas, principalmente os textos proféticos da Bíblia, durante todo o período de 1260 anos, a saber, enquanto elas viverem (David Steele, Notes on the Apocalypse, p. 133).
Este é um aspecto da maior importância, já que nenhuma palavra proferida por essas duas testemunhas é inspirada, no sentido convencional e próprio do termo “inspiração”! (David Steele, The Two Witnesses, p. 336).
Steele insiste, ao dizer que a causa em questão é a verdade divina, ou seja, todas as preciosas doutrinas da Bíblia, bem como a aplicação fiel das mesmas. As duas testemunhas, a exemplo dos reformadores da Primeira e da Segunda Reforma, se baseiam no seu profundo conhecimento da profecia, tanto por meios normais (i.e., a pregação) quanto por meios extraordinários (i.e., predizendo acontecimentos específicos e juízos de Deus sobre os ímpios) para pronunciarem a sentença de Deus sobre o Anticristo e seus seguidores. Através de meios normais (i.e., a pregação) e de meios extraordinários (i.e., predizendo acontecimentos futuros), “… sai fogo da sua boca e devora os inimigos […]. Elas têm autoridade para fechar o céu, para que não chova durante os dias em que profetizarem. Têm autoridade também sobre as águas, para convertê-las em sangue, bem como para ferir a terra com toda sorte de flagelos…” (Apocalipse 11.5-6), pois não são elas que realmente falam, mas sim o Espírito de seu Pai que fala por intermédio delas. A elas, com exclusividade, foi dada uma boca e sabedoria, de modo que nenhum dos seus adversários é capaz de contradizê-las, nem de resisti-las. Pela boca dessas testemunhas a verdadeira doutrina é proclamada e, por sua sabedoria prática, amplia-se a experiência da vida com Deus:
Essas testemunhas só podem manter sua postura contra a oposição anticristã se tiverem aquela mesma autoridade que se vê no Antigo Testamento. Todo o perfil de seu testemunho, tal como consta no livro do Apocalipse, demonstra a familiaridade dessas testemunhas com aquela autoridade contemplada no Antigo Testamento e sua confiante dependência desta, especialmente no que se refere à profecia, já que a incumbência delas é profetizar. Como sua fé não pode se apoiar em sabedoria humana, mas no poder de Deus, a fé dessas testemunhas está edificada não apenas sobre o fundamento dos apóstolos, mas também dos profetas (Ef 2.20). A “… fé que é dos eleitos de Deus e o pleno conhecimento da verdade segundo a piedade…” (Tt 1.1) andam lado a lado (The Two Witnesses, p. 335).
Além disso, James Durham ressalta que nesse trecho das Escrituras a “profecia” e o “testemunho” dessas duas testemunhas estão inseparavelmente unidos. Quando se faz uma comparação entre os textos de Apocalipse 11.3 (“Darei às minhas duas testemunhas que profetizem…”) e Apocalipse 11.7 (“Quando tiverem, então, concluído o testemunho que devem dar…”), Durham conclui corretamente que os meios (i.e., profecia) levam ao fim (i.e., testemunho), de modo que esses dois conceitos, embora distintos em essência e entre si, tem de ser considerados mutuamente inclusivos nessa relação. A relevância dessa observação está no fato de que é todo o ministério profético das duas testemunhas (i.e., tanto as profecias bíblicas quanto extrabíblicas) deve ser entendido como parte integrante de seu testemunhoo, se estamos para deduzir que esse texto comprova o uso de revelações extraordinárias ou extrabíblicas após a conclusão do cânon das Escrituras. A partir do momento que se comprova o fato (o qual já foi demonstrado por Rutherford, Durham, Gillespie, etc.) de que o ministério profético das duas testemunhas inclui a predição de acontecimentos específicos, podemos coerentemente concluir que a Bíblia permite que isso aconteça durante os 1260 dias (ou seja, depois do encerramento do cânon das Escrituras Sagradas).
Quando ministros de Cristo têm muito o que fazer e enfrentam muita oposição, Deus, em contrapartida, geralmente lhes concede mais ousadia, dons e auxílio do que o normal. Essas testemunhas de Cristo são um tremendo esquadrão, pois, apesar serem poucas em número, nenhum dos seus oponentes consegue levar vantagem sobre elas; qualquer indivíduo que as agredir será morto […] Quando elas [i.e., as duas testemunhas – Puritan Reformed Church of Edmonton – PRCE] concluírem seu testemunho ou estiverem prestes a terminar seu testemunho; pois é no momento do apogeu do Anticristo que isso se cumpre; aquilo que antes se chamava profecia, aqui se denomina testemunho [Apocalipse 11.7 – PRCE]. É para esse fim que elas tinham de testemunhar e pregar (James Durham, Commentary on the Book of Revelation, p. 252-53, grifo do autor).
Repare, na citação abaixo, a maneira pela qual Durham relaciona as predições proféticas extrabíblicas de acontecimentos futuros com a extraordinária eficácia de Martinho Lutero na oração. Isso tem especial relevância quando se considera o fato de que Durham identifica Lutero (e, por conseguinte, Calvino, Knox, Wishart, Bruce, etc.) com um daqueles aos quais foram concedidos auxílio e sucesso extraordinários na proclamação dos juízos de Deus contra o Anticristo e seus seguidores – à semelhança do que Deus realizou pela instrumentalidade de Moisés e Elias.
Por fim, o texto de Apocalipse 11.3 registra que lhes [i.e., às duas testemunhas – PRCE] foi dado profetizar: “Darei às minhas duas testemunhas que profetizem por mil duzentos e sessenta dias, vestidas de pano de saco” – [i.e., profecia – PRCE] o que assegura o comissionamento especial que elas receberam de não apenas estarem dentro daquela situação mas de permanecerem nela, numa implicação de que essas testemunhas contam com todo o suporte e garantia de sucesso, além do que se poderia esperar, para o cumprirem seu dever de testemunhar. Esse poder contempla principalmente aquela autoridade que Deus outorgou a elas de pronunciar Seus juízos contra os seguidores do Anticristo, certas de que o acontecimento predito se cumprirá, tanto os acontecimentos temporais, no devido tempo, quanto os acontecimentos eternos que, conforme forem pronunciados, se consumarão para sempre (Apocalipse 14.6,10). A expressão “… tantas vezes quantas quiserem…” (Ap 11.3) não deve ser interpretada como se fosse conferido a essas testemunhas o direito de usar arbitrariamente os botões de comando; até mesmo profetas extraordinários não operaram milagres, nem profetizaram a ocorrência de acontecimentos futuros por seu bem querer ou por qualquer poder habitual, mas só o fizeram no momento e no lugar que o Senhor queria realizá-los. Em vez disso, a referida expressão ressalta a supremacia do poder dessas testemunhas sobre os homens e a dependência de Deus que elas demonstram, pois não podem se utilizar de nenhum dos meios subordinados à besta, que o mundo tanto admirava e respeitosamente aclamava, mas chamam a atenção de todos para aquilo que elas têm a dizer da parte de Deus. Deus não lhes recusará nenhum bem e levará a bom termo todas as Suas Palavras proferidas por intermédio dessas testemunhas, tal Ele agiu nas vidas de Moisés e Elias, bem como desses outros referidos até aqui. Por isso, essas expressões são utilizadas de forma específica e correta. Jonas usa tal expressão latina para se referir à eficácia de Lutero na oração, quicquid voluit potuit [que numa tradução livre quer dizer: “tudo o que ele pedia obtinha” – PRCE], a qual concorda com aquilo que é dito aqui sobre o assunto (James Durham, Commentary on the Book of Revelation, vol. 1, p. 246-247).
Essa interpretação do texto de Apocalipse 11.3 não prova “explicitamente” que as profecias, aqui referidas, foram predições extrabíblicas do futuro, mas aceita “implicitamente” que homens cheios do Espírito Santo proclamem a verdade, apliquem as Escrituras e testemunhem contra o engano do Anticristo. Esse testemunho é o Espírito do Pai falando através de Suas testemunhas, de modo que tal testemunho inevitavelmente assume, por vezes, a forma de predições extrabíblicas de acontecimentos futuros ou juízos vindouros de Deus sobre Seus inimigos. Se a correta interpretação do ministério profético das duas testemunhas inclui todas as preciosas doutrinas da Bíblia e sua aplicação fiel, temos, obrigatoriamente, de incluir todo o testemunho delas (o que engloba a predição extrabíblica dos acontecimentos e juízos futuros por intermédio dos reformadores da Primeira e da Segunda Reforma). Assim, por inferência, as predições extrabíblicas de acontecimentos futuros e juízos vindouros de Deus contra os ímpios devem ser consentidos após a conclusão do cânon da Bíblia. Tal inferência é tão boa quanto necessária, a menos que alguém queira excluir o testemunho dos líderes da Primeira e da Segunda Reforma, alegando que eles pecaram, ao permitir que previsões extrabíblicas de determinados acontecimentos continuasse a ocorrer depois do encerramento do cânon das Escrituras. Ainda que suas predições extrabíblicas de acontecimentos futuros não tenham sido “inspiradas”, no sentido formal do termo, Deus usou esses meios para tornar manifesto que Ele proferia a verdade por intermédio deles, protegendo-os sob Sua providência e respondendo as orações que Lhe faziam de uma maneira extraordinária. Isso se constitui num exemplo de inferência, proveniente das Escrituras, que autoriza a predição extrabíblica de acontecimentos futuros, após a conclusão do cânon da Bíblia.
Em seguida, Gillespie comenta o seguinte:
… Apesar de tais profetas serem extraordinários e de raramente surgirem na igreja, ouso dizer que alguns profetas têm se levantado, não só nos tempos primitivos, mas também entre nossos primeiros reformadores, entre outros. Sobre qual fundamento bíblico se pode justificar a existência de tais profetas extrabíblicos, se não sobre esses textos das Escrituras aplicados por alguns àqueles irmãos que profetizam ou a outros membros da igreja capacitados? (George Gillespie, Miscellany Questions, vol. 2, capítulo 5, seção 7, p. 30).
Nas seções seguintes de seu livro (pontos 8–13, p. 30-31, da obra Miscellany Questions), Gillespie prossegue para analisar com mais profundidade o argumento bíblico que admite profecias extrabíblicas posteriores ao encerramento do cânon das Escrituras. Nós recomendamos que você leia essa parte do livro de Gillespie para um estudo mais aprofundado.
Portanto, em nossa opinião, o uso de uma inferência válida corroboraria o ponto de vista que consente com a predição extrabíblica de certos acontecimentos posterior à conclusão do cânon da Bíblia. Podemos sensatamente deduzir que Deus não se recusou a abençoar a igreja de modo extraordinário, concedendo aos Seus santos informações extrabíblicas acerca de determinados acontecimentos futuros, pelas seguintes razões:
  1. Em nenhum lugar da Bíblia há qualquer declaração explícita de que Deus cessaria de manifestar Sua graça evidente nessa forma de profecia.
  2. Deus normalmente concede a Seus filhos graças semelhantes nas áresas da oração e da certeza de fé.
  3. Deus manifestou essa mesma graça aos reformadores mais destacados da Igreja durante os melhores e mais puros períodos da existência dela.
III. Exemplo Comprovado
Embora realmente tenhamos muitos exemplos comprovados de profecia no Novo Testamento (e.g., Atos 21.11, onde a prisão de Paulo em Jerusalém foi predita por Ágabo; e Atos 11.28, onde Ágabo predisse que grande fome sobreviria ao mundo), isso não proporciona prova suficiente para desbancar a alegação dos que persistem em dizer que todos os tipos de profecia cessaram no momento em que o cânon da Bíblia se completou. Como se pode citar um exemplo comprovado de profecia que tenha sido enunciada após a conclusão do cânon da Bíblia? Buscar dentro do próprio cânon da Bíblia um exemplo comprovado de profecia enunciada num período posterior ao encerramento do cânon das Escrituras implica uma impossibilidade inerente e, portanto, não se pode obviamente nem tentar.
 Nesse caso, cremos que a pergunta correta seria a seguinte: Em que trecho da Palavra de Deus há alguma proibição de que se profetize acontecimentos específicos após a conclusão do cânon da Bíblia? Que lei de Deus é transgredida em tal situação?
Nossa resposta a essas perguntas é a de que simplesmente não podemos encontrar nenhum texto da Palavra de Deus que proíba aquilo que nossos reformadores praticaram. Em nossa avaliação, eles não desobedeceram nenhum mandamento, nem exigiram de outras pessoas qualquer coisa, seja na doutrina seja na prática, que fosse biblicamente ilícita; em vez disso, os reformadores conscientemente evitarem abusar da misericórdia de Deus, enquanto sustentavam os padrões de doutrina e práxis da nossa igreja com integridade. Outrossim, se é fato que muitos homens (i.e., aprovados por Deus que viveram de modo saudável tanto na doutrina quanto na prática) predisseram extraordinariamente acontecimentos específicos que mais tarde se cumpriam, cremos também que o mais sábio é reconhecer a extraordinária misericórdia de Deus derramada sobre esses homens, enquanto tomamos o cuidado de não cair no abuso e excesso Antinomiano, normalmente atrelados a tais ocorrências.
Não somos obrigados a acreditar numa revelação extrabíblica especial só porque “parece” ser plausível ou porque alguém fez tal alegação. A Palavra de Deus revelada na Bíblia é nossa única e infalível regra de fé e prática, de forma que todas as coisas devem ser testadas e verificadas segundo seus ditames. Conforme Durham declarou:
Todas as conjecturas mentais antes do acontecimento e toda responsabilidade por ele quando ocorre, não são suficientes para fazer disso uma presciência profética superior aos sonhos que tão frequentemente caem por terra (James Durham, Commentary upon the Book of Revelation, Glasgow, edição de 1788, citado de SWRB, fotocópia encadernada, vol. 2, p. 221).
Entretanto, se outros, após examinarem as Escrituras para terem a certeza de que não estão violando nenhum mandamento, agem com base num pronunciamento profético extrabíblico, não podemos acusá-los de pecado, a menos que se possa provar que determinada lei de Deus foi transgredida na proposição ou na execução do ato. Mais uma vez, Durham explica:
É preciso respeitar a diferença entre a simples predição de um acontecimento, a qual talvez proceda de Deus, e uma conclusão a que se possa chegar a partir de tal predição, conclusão essa que talvez proceda de nós mesmos, como podemos ver nas profecias, registradas em Atos 21 [v. 11 – PRCE], daqueles que predisseram a prisão de Paulo em Jerusalém; contudo isso não era para demovê-lo da decisão de ir para lá, como muitos pensam, ou que ir para Jerusalém não procedia de Deus, o que é nitidamente contrariado pela pressão que Paulo sentiu em seu espírito de ir para lá mesmo assim. Por isso, não se pode fazer com que toda predição dessa natureza se torne uma regra a ser obedecida, já que, numa situação como essa, Deus pode ter outros fins benignos com o intuito de provar, proclamar e confirmar. E nós não vamos encontrar alguém que tenha feito uso dessas revelações específicas, baseando-se nestas para impor uma obrigação sobre os outros, que não fosse legitimamente justificável, embora, ao concorrer com outros motivos, isso talvez influencie a vacilar nas coisas lícitas (James Durham, Commentary upon the Book of Revelation, Glasgow, edição de 1788, citado de SWRB, fotocópia encadernada, vol. 2, p. 222)
Por fim, não vemos nenhum argumento bíblico, nem qualquer discernimento que nos leve a proibir o que Deus não proibiu, contanto que todas essas regras de sabedoria e prudência sejam cuidadosamente observadas. Se, a nosso juízo, não existe nenhum motivo válido que nos obrigue a descrer dos relatos de nossos antepassados piedosos, nossa decisão é a de glorificar a Deus por Sua condescendência misericordiosa, enquanto nos guardamos de cair nos extremos pavorosos de ambos os lados da questão.
Será que o ponto de vista cessacionista, com algumas exceções extrabíblicas, estaria basicamente correto ou a posição cessacionista é um erro teológico que deve ser repudiado?
O ponto de vista cessacionista “basicamente” está correto e a posição que atualmente defendemos não é diferente, em essência, daquela que mantivemos no passado, apesar de ter se tornado mais distinta e qualificada.
Como a Confissão de Fé de Westminster (1:1) afirma:
Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência manifestam de tal modo a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, todavia, não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e de sua vontade, necessário à salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isso torna a Escritura Sagrada indispensável, tendo cessado aqueles antigos modos de Deus revelar a Sua vontade ao seu povo.
O conhecimento de Deus e o conhecimento de Sua vontade, necessários para a salvação, estão inteiramente compromissados com o que está escrito na Bíblia. Portanto, os antigos modos de Deus revelar essas verdades ao seu povo, por inspiração imediata, cessaram por completo. Assim, podemos concluir que certa categoria importante da revelação cessou inteiramente. Nenhuma afirmação da verdade, nenhuma lei moral, nenhuma declaração de fé, que, de forma fundamental ou não-fundamental, seja necessária para a salvação, pode, normal ou extraordinariamente, ser somada às Escrituras ou vinculada à consciência por meio der pronunciamento profético posterior à conclusão do cânon.
Como foi dito acima, concordamos plenamente com James Durham, quando este afirma:
Afirmação 3: Profecia, entendida como a revelação imediata da verdade do evangelho e de mistérios, a exemplo do que foi descrito em 1ªCoríntios 14 e do que ocorria nos tempos apostólicos, cessou, de modo que não mais existe tal dom, nem tal ofício em nossos dias.
(1) Não existe mais tal dom, pois ele não é comum a todos os que são renovados. Nos dias dos apóstolos era diferente; havia diversidade de dons e esse dom difere da graça salvadora (cf. 1ªCoríntios 12 e 14, entre outros textos), de modo que esse dom especial de profecia não teve continuidade, assim como nenhum outro dom desse tipo continuou, a saber, os dons de curar, de línguas e de interpretação de línguas, no exercício dos quais os homens podem atuar de maneira direta e imediata. Além disso,
(2) A experiência mostra que esse dom cessou e que Deus chama os homens a fazerem uso dos meios normais de obtenção do conhecimento da Sua vontade. Nos tempos atuais, aquilo que alegam ser tal dom, submetido a teste, não seria aprovado. Por conseguinte, também não há, hoje em dia, um ofício profético que se possa almejar. Entretanto, mesmo esses que se dizem profetas devem ser testados e avaliados acerca daquilo que profetizaram, se, de fato, houve uma revelação (1Coríntios 14). Porém, o fato de atualmente não haver ninguém que seja aprovado nesse teste, não é razão para que finalmente deixemos de aceitar tal dom ou tal ofício (James Durham, Commentary upon the Book of Revelation, Glasgow, edição de 1788, citado de SWRB, fotocópia encadernada, vol. 2, p. 219-224).
No entanto, sustentamos nossa convicção de que essa revelação extrabíblica de determinados acontecimentos futuros e de terríveis juízos vindouros sobre os ímpios, não se encontra na mesma categoria da direta revelação da verdade do evangelho e dos mistérios necessários para a salvação. Outrossim, cremos que tais revelações extrabíblicas podem ser e têm sido levadas ao conhecimento dos filhos de Deus desde a conclusão do cânon da Bíblia.
É admissível que os oficiais da igreja recebam revelações extrabíblicas para guia-los na direção dos afazeres da igreja?
Não é lícito que os oficiais da igreja, ou quaisquer outros, conduzam a igreja por meio de revelações extrabíblicas, já que (como foi demonstrado acima), não nivelamos profecias extrabíblicas em pé de igualdade com as Escrituras Sagradas. Só permitiremos que a Igreja de Cristo seja guiada de acordo com a mente do Espírito, revelada na santa Palavra de Deus. Essa posição é coerente com a Confissão de Fé de Westminster(1:10), quando afirma: “O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas e por quem serão examinados todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares, o Juiz Supremo em cuja sentença nos devemos firmar não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura”. Uma vez que as profecias extrabíblicas não se igualam com a Bíblia na mesma categoria de “Escritura”, nao podemos utilizá-las como critério autorizado, nem podemos esperar ou exigir que outros obedeçam a orientação de tais profecias.
É admissível que membros de nossas igrejas locais aleguem receber comunicados de Deus extrabíblicos sobre acontecimentos futuros, bem como afirmem que são profetas?
É admissível que um membro de nossa igreja “alegue” receber revelações extrabíblicas da parte de Deus, desde que as regras acima mencionadas sejam obedecidas na íntegra. Qualquer pessoa em nossa igreja que afirme receber esse tipo de revelação será questionada e instruída de acordo com a decisão de nossa assembleia que trata dos parâmetros bíblicos a serem seguidos. Se nossa assembleia determinasse que não é admissível ou possível que qualquer pessoa receba tal revelação, seria o mesmo que condenar nossos dignos reformadores e estabelecer limites desnecessários sobre aquilo que Deus pode fazer agora ou no futuro. Como já foi dito, para condenarmos incondicionalmente esta prática seria preciso prova escriturística demonstrando como tal prática viola a lei de Deus em todas as situações. É claro que estamos abertos para ouvir qualquer acusação legal específica, contanto que os devidos passos tenham sido dados no sentido de tratar o caso de um irmão que tenha errado, primeiramente no âmbito pessoal ou privado. Qualquer que assumir o ofício de profeta, falaria e agiria de forma contrária aos nossos critérios estatutários e sua situação será tratada conforme os dispositivos de nosso pacto.
De que maneira alguém poderia ter a comprovação de que recebeu um comunicado extrabíblico da parte de Deus, ao invés de ter simplesmente se enganado?
Em termos gerais, nossas regras declaradas devem ser aplicadas a qualquer pessoa que alegue ser porta-voz de uma profecia extrabíblica. Se todas as regras bíblicas forem cuidadosamente aplicadas de antemão, podemos, então, tentar definir, após a ocorrência do acontecimento predito, se a pessoa se enganou ou não. Mesmo que uma determinada predição extrabíblica se torne realidade, não somos necessariamente forçados a reconhecer que tal revelação proceda extraordinariamente do Espírito de Deus. Além do mais, ainda que uma predição desse tipo viesse a se cumprir, não seria pecado continuar em dúvida quanto à origem dessa predição, pois não temos o compromisso de crer, de imediato, que tais predições são divinamente inspiradas. Contudo, também devemos considerar em oração que tais coisas são possíveis e se Deus, de modo extraordinário, edifica e protege Seus filhos por meio de tal revelação, temos de nos manter abertos para reconhecer Sua misericórdia e por esta dar graças. É preciso ter o cuidado de evitar o racionalismo e o ceticismo extremados, bem como o antinomianismo exagerado no outro extremo.
Como eu poderia saber se alguém que alega receber revelações extrabíblicas de Deus está realmente recebendo tais revelações de Deus?
A mesma resposta dada à pergunta anterior.
Qual é a diferença entre misticismo e genuína experiência espiritual?
Isso é difícil de responder devido à natureza vaga da pergunta. Se você puder ser mais específico, teremos o maior prazer em tentar lhe dar uma resposta mais completa. Em geral, o misticismo se baseia somente em meras impressões e emoções, ao passo que a experiência espiritual autêntica se alicerça fundamentalmente na Palavra de Deus revelada nas Escrituras.

Título original: A Reformation Discussion of Extraordinary Predictive Prophecy Subsequent to the Closing of the Canon of Scripture.
Tradução: Pr. Jamil Abdalla Filho | Márcia Elias.

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