A Confissão de Fé de Westminster no capítulo X sobre o Vocação Eficaz na seção 4, diz que “Os outros, não eleitos, embora possam ser chamados pelo ministério da Palavra (Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos. Mt 22:14) e possam receber algumas operações comuns do Espírito”, isso mesmo que você leu, OPERAÇÕES COMUNS DO ESPÍRITO. “OPERAÇÕES COMUNS” ou seja, é algo verdadeiro, uma operação do Espírito Santo. Quais os textos que são usados? São esses:
Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu NOME? e em teu NOME não expulsamos demônios? e em teu NOME não fizemos muitas maravilhas? (Mt 7:22)
O que foi semeado em pedregais é o que ouve a palavra, e logo a recebe com alegria; Mas não tem raiz em si mesmo, antes é de pouca duração; e, chegada a angústia e a perseguição, por causa da palavra, logo se ofende; (Mt 13:20-21)
Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, E provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século futuro, (Hb 6:4-5).
O texto de Mateus 7:22 relata que as manifestações são verdadeiras, pois eles fazem isso em nome de Jesus. Falsos eram os mestres e não os dons. Jesus relata que os falsos usariam isso como justificativas para serem salvos, mas eles não seriam salvos por isso.
Note o caso de Balaão, que a Bíblia relata como falso profeta e ele foi usado por Deus para abençoar o povo de Israel e profetizou a vinda de Cristo. Ele é o personagem do famoso versículo: “Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa; porventura diria ele, e não o faria? Ou falaria, e não o confirmaria?” (Num.23:19) e outro falando da vinda de Jesus: “Então proferiu a sua parábola, e disse: Fala Balaão, filho de Beor, e fala o homem de olhos abertos; Fala aquele que ouviu as palavras de Deus, e o que sabe a ciência do Altíssimo; o que viu a visão do Todo-Poderoso, que cai, e se lhe abrem os olhos. Vê-lo-ei, mas não agora, contemplá-lo-ei, mas não de perto; uma estrela procederá de Jacó e um cetro subirá de Israel, que ferirá os termos dos moabitas, e destruirá todos os filhos de Sete. (Num.24:15-17)
Samuel Rutherford no seu livro sobre “Um exame sobre o arminianismo” faz uma distinção entre metafísica e ética. Na metafísica esses feitos como milagres e os sacramentos seriam verdadeiros, mas na ética é onde descobrimos os falsos mestres. Ele diz: “(1) Isso é ainda mais confirmado porque as pessoas infiéis que rejeitam o fundamento ainda podem exercer atos verdadeiramente pastorais; eles podem pregar Cristo (Filipenses 1:15, 16, 17), podem administrar verdadeiramente os Sacramentos e exibir pastoralmente os selos da graça e da aliança ao povo. (2) Porque a Palavra de Deus, por mais que possa soar, e os Sacramentos de Deus, por mais corrompidos que estejam, desde que permaneçam a Palavra de Deus e os Sacramentos em essência, não perdem sua eficácia, mesmo que sejam administrados pelos instrumentos mais ímpios. Sua eficácia vem não dos instrumentos, mas de Deus e da instituição divina. (3) Finalmente, em favor e para o bem salvador dos verdadeiros crentes, porque Deus quer que a Palavra, os Sacramentos e a Disciplina estejam em tal congregação unicamente por causa dos crentes, não por causa de pastores ímpios ou daqueles que rejeitam o fundamento.(4) Eles são válidos pelo consentimento eclesiástico virtual dos crentes, embora eles não deem formalmente seu consentimento nem ajam lá.”[1]
Ele continua em sua explicação desses pontos: “No primeiro sentido, a Igreja Romana é verdadeiramente uma Igreja porque transmite e ensina todos os fundamentos dos quais a fé salvadora e a prática da vida cristã podem ser derivadas, mesmo que adicione outras coisas destrutivas desses fundamentos. Assim, especulativamente, a Igreja é verdadeiramente uma Igreja pela verdade metafísica, assim como um homem doente é verdadeiramente um homem. Mas não é verdadeiro pela verdade ética; em vez disso, é impuro e corrompido. No entanto, essa é uma corrupção parcial que não destrói a essência da Igreja, assim como um homem doente não perde a essência do ser humano devido a suas doenças. Da mesma forma, o batismo de pastores heréticos e papistas é verdadeiro pela verdade metafísica, assim como uma pessoa batizada por um ministro adúltero e perverso é verdadeiramente batizada. Pois o batismo tem sua validade da instituição de Cristo, não do ministro. Como Agostinho respondeu no livro 2 contra as cartas de Petiliano, capítulo 108: ‘Assim, aprovamos o batismo em hereges, não o deles, mas o de Cristo, assim como em fornicadores, idólatras, etc., aprovamos o batismo, não o deles, mas o de Cristo.’”[2]
O Ministro Presbiteriano David Dickson, diz em seu comentário da Confissão de Fé de Westminster “Verdade sobre o Erro” do capítulo X, diz: “Quest. VII. Pode algum não eleito, embora chamado pelo ministério da palavra, e tendo ‘algumas operações comuns do Espírito’, verdadeiramente vir a Cristo, e assim ser salvo?" Não; Mat. 22.14. Mat. 7.22. Mat. 18.20,21. Heb. 6.4,5. João 6.64,65,66. João 8.24.”
Note que ao comentar essa proposição, ele não nega as operações comuns do Espírito que são relatas nela, ao contrário antes as afirma. Mas ele diz que eles não podem ser salvos. Ele continua: “Bem, então, os arminianos não erram, que sustentam, Que há graça suficiente dada a todos os homens para sua conversão a quem o evangelho é pregado? Sim. Da mesma forma, os quakers não erram, que sustentam, Que todo homem tem tanta graça dada por Deus, que, se ele a melhorasse, o levaria ao céu? Sim. Por quais razões eles são refutados? 1º, Porque Cristo diz aos seus discípulos: A vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não é dado, Mat.13.11. 2º, Porque é dito dos judeus que eles não podiam crer, porque Deus havia cegado seus olhos e endurecido seus corações, João 12.39,40. 3º, Porque Cristo disse aos seus discípulos: há alguns de vocês que não creem; por isso eu vos disse que ninguém pode vir a mim, se não lhe for dado por meu Pai, João 6.64,65. 4º, Porque o profeta Isaías reclama: Quem creu em nossa pregação, e a quem é revelado o braço do Senhor? Isa. 53.1. 5º, Porque muitos são chamados, mas poucos são escolhidos, Mat. 22.14. 6º, Porque os homens na natureza não discernem nem podem conhecer as coisas do Espírito de Deus, 1 Cor. 2.14. 7º, Porque a maior parte do mundo está enterrada em densas trevas, e tem o entendimento obscurecido, e estão alienados da vida de Deus, pela ignorância que há neles, por causa da cegueira dos seus corações, Ef. 3.18.”[3]
O Rev. Angus Stewart diz sobre isso, que “Essas “operações do Espírito” são “comuns” aos eleitos e réprobos, pois alguns eleitos e réprobos realizaram milagres (Mt. 7:22) e todos os eleitos e alguns réprobos foram iluminados e receberam alegria e gosto dos mistérios do evangelho pelo Espírito (13:20; Hb. 6:4-5). Existem especialmente três diferenças, no entanto, no que diz respeito às “operações do Espírito” nos eleitos e não eleitos. Primeiro, o Espírito dá a alguns réprobos um entendimento natural, alegria e gosto de ou nas coisas espirituais, enquanto que os eleitos recebem entendimento espiritual, alegria e gosto de ou nas coisas espirituais (João 17:13; I Cor. 2:14). Segundo, as “operações do Espírito” chegam aos dois grupos de pessoas com uma motivação divina diferente e de uma maneira diferente: os eleitos os recebem na graça de Deus, mas os réprobos os recebem na providência e não na graça. Terceiro, tanto a Confissão 10:4 de Westminster quanto o Catecismo Maior de Westminster, perguntas e respostas 68, falam de “algumas operações comuns do Espírito,” pois existem operações e dons do Espírito – os maiores dons permanentes e salvadores! que são apenas para os eleitos e não para os réprobos: o novo nascimento, o perdão dos pecados, a justiça imputada de Cristo, o amor de Deus derramado em nossos corações (Rom. 5:5), a garantia do amor invencível de Jeová (8:37-39), etc. Entre essas “operações do Espírito,” que são particulares apenas aos eleitos, está o chamado eficaz, assunto da Confissão de Westminster 10:4.”[4]
O homem espiritual é a pessoa com o Espírito Santo e que, por isso, tem melhores condições para entender cada situação. Isso é diferente daquele que não conhece a Deus. Mas o relato da libertação da adivinhadora de Filipos, por ocasião da segunda viagem missionária do apóstolo Paulo, revela que o discernimento espiritual vai além, pois diz respeito ao “dom de discernir os espíritos” (1Co 12.10). Quem realmente já experimentou o poder de Deus na vida, não pode ser levado por impostores. Deus permite, às vezes, o sobrenatural vindo de fontes estranhas para provar a fé do crente e sua experiência espiritual.
A jovem adivinha estava possessa, tomada pelo espírito das trevas; logo, a mensagem dela não vinha de si mesma, mas do espírito que a oprimia. Satanás é o pai da mentira (Jo 8.44) e o principal opositor da obra de Deus (At 13.10). Por que, então, o espírito adivinho elogiaria os dois mensageiros de Deus, Paulo e Silas, ao confirmá- los como anunciadores do caminho da salvação? É óbvio que havia algo de errado nisso.
A jovem pitonisa “tinha espírito de adivinhação” (v.16). O termo grego usado aqui é python, “Píton, espírito de adivinhação”, de onde vem o termo “pitonisa”, associado à feitiçaria. Píton era a serpente que guardava o oráculo em Delfos, na antiga Grécia, a qual, segundo a mitologia, Apolo matou. Com o tempo, python passou a ser usado para designar adivinhação ou ventríloquo, que em grego é engastrimythos, de gaster, “ventre”, e mythos, “palavra, discurso”, cuja ideia é dar oráculos ou predições desde o ventre, pois se imaginava alguém ter tal espírito em seu ventre. O vocábulo engastrimythos, não aparece no Novo Testamento, mas está presente na Septuaginta (Lv 19.31; 20.6) e é aplicado à feiticeira de En-Dor (1Sm 28.7,8).
Moisés enumerou algumas práticas divinatórias comuns entre os cananeus (Dt 18.14) e os egípcios (Is 19.3), as quais Israel deveria rejeitar. Isso vale também para os cristãos, pois essas práticas estão presentes ainda hoje na sociedade. Parece que essas coisas encantam o povo, como aconteceu em Samaria com Simão, o mágico (At 8.9-11). Tais práticas envolvem, direta ou indiretamente, magia, astrologia, alquimia, clarividência, tarô, búzios, quiromancia, necromancia, numerologia, etc. São práticas repulsivas aos olhos de Deus porque trata-se de uma forma de idolatria (Ap 21.8; 22.15). Como parte da magia, a adivinhação é uma antiga arte de predizer o futuro por meios diversificados: intuição, explicação de sonhos, cartas, leitura de mão, etc.
O Senhor Jesus colocou à disposição de cada crente as condições necessárias para discernir entre o falso e o verdadeiro, habilitando-o a fazer a obra de Deus. Ele disse: “Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos” (Mt 10.16) e para isso nos equipou com armas espirituais de defesa e de ataque ao reino das trevas (2Co 10.1-5). O discernimento espiritual é importante arma do arsenal do Espírito Santo.
O dom de discernir os espíritos aparece logo após o dom de profecia (1Co 12.10); por essa razão, muitos associam o referido dom como meio de “julgar” as profecias (1Co 14.29). Mas o contexto do Novo Testamento, mostra que essa não é a sua única função. Serve também para distinguir a manifestação do Espírito Santo das manifestações de profecias, línguas, visões, curas provenientes de fontes demoníacas e para proteger-nos dos ataques satânicos. Manifesta-se em situações nas quais não é possível, com recursos humanos, identificar a origem da manifestação sobrenatural.
É muito estranho que o espírito maligno que atuava na vida da jovem, viesse gritando publicamente por muitos dias, e elogiando Paulo e Silas com as palavras: “Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo” (v.17). Note que, ela falava uma verdade, de que Paulo e Silas eram servos do Deus Altíssimo. Agora, como Paulo descobriu que ela falava por um espírito maligno se o dom de discernimento cessou? Perguntamos ao Pastor teólogo cessacionista, ele pode nos responder e justificar a sua resposta?
Essa não foi a única vez em que Satanás procedeu dessa maneira (Mc 5.7). Adam Clarke, comenta que o “testemunho sobre os apóstolos, em essência, era verdadeiro, com o fim de destruir sua reputação e arruinar a sua utilidade”. O propósito diabólico aqui, era transmitir ao povo a falsa ideia de que a mensagem que Paulo e Silas pregavam seria a mesma da jovem adivinhadora.
A moça era uma escrava que dava muito lucro aos seus senhores com essa prática ocultista (v.16). Ao ser liberta pelo poder do nome de Jesus, os seus proprietários viram nisso um prejuízo econômico e foram denunciar os missionários às autoridades locais. A população não viu a maravilha da grande libertação da moça, e Paulo e Silas não foram denunciados por causa da expulsão do espírito maligno da jovem. Eles foram acusados de perturbar a ordem pública e nem sequer foram ouvidos, ou seja, não tiveram o direito de resposta. Foram açoitados e colocados na prisão (vv.19- 22). Jesus tornou-se também persona non grata em Gadara, por causa do prejuízo dos porqueiros (Mc 5.16-18). Infelizmente, o lucro fala mais alto ainda hoje.
O discernimento do Espírito, nos permite conhecer tudo aquilo que é impossível saber por meio de recursos humanos. O caso de Paulo e da adivinha de Filipos é emblemático, um exemplo clássico do uso desse dom na vida real. Reconhecer a origem maligna de uma manifestação contra a Igreja não é tão difícil, mas, no contexto de Paulo, diante dos elogios da adivinhadora, isso era praticamente impossível sem a atuação do Espírito Santo.
É incrível que aqueles que amam a confissão, não conhecem a própria confissão e ainda usam um texto bíblico de forma desonesta para atacar os outros. Poderíamos usar esse texto para ele: “Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.” 2Cor.4:3-4. Isso se aplica aos outros textos prova que a CFW trata (Mt 13:20-21;Hb 6:4-5).
Se a fala de tal pessoa estiver correta, que os crentes e falsos crentes serão enganados por crerem em sinais extraordinários do Espírito Santo, até mesmo a profecia de Balaão da vinda de Cristo era falsa e enganou a muitos. Se apoiarmos essa ideia de que os sinais de hoje são falsos, e claro que existe sinais falsos, então, entraríamos no erro de atribuir que essas obras são obras de satanás e pecaríamos contra o Espírito Santo. Se todos os que são falsos mestres, tudo o que eles fazem são obras falsas, estaríamos concluindo algo pelas nossas simples ideias e não pelo discernimento do Espírito Santo.
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