JOHN KNOX CONTRA O HIPERCESSACIONISMO DOS PRESBITERIANOS MODERNOS

 


No capítulo 33 na página 303 do livro “Sobre a Predestinação”, John Knox traz uma resposta a um anabatista que acreditava na expiação universal e na iluminação do Espírito Santo como fonte de revelação e direção na vida do homem, em detrimento das Escrituras. Esse objetor anabatista insinua que o conhecimento em línguas originais e ao estudo teológico, pode até ser necessário, mas não é o bastante, pois esse conhecimento pode levar ao orgulho e ao erro. Ele acredita que a predestinação é um erro que foi originado pelo estudo teológico e que John Knox e outros reformadores deveriam abandonar e voltar ao estudo simples das Escrituras.

 

 

Argumentos de John Knox

 

  • Rejeição da Supervalorização da Iluminação subjetiva: Knox critica a tendência de desprezar o aprendizado teológico e a importância das Escrituras, que deve ser a base para a revelação.
  • Cessação dos Dons Canônicos: Ele afirma que as revelações canônicas, que eram confirmadas por milagres, cessaram e agora se encontram nas Escrituras Sagradas.
  • Harmonia entre Palavra e Espírito: Knox não ignora os dons que Deus concede aos reformadores, mas enfatiza que a instrução deve vir da Palavra de Deus e do Espírito Santo, que agem em conjunto.

 

 

John Knox mostra que o objetor, e seu líder começaram a abandonar e a menosprezar o aprendizado, pois valorizavam a direção de seus ensinos pela iluminação do Espírito Santo como fonte canônica de revelação. Para eles, as Escrituras vinham em segundo plano. Note que o que John Knoz diz que cessou, foi exatamente isso, revelações canônicas (doutrinárias) que seriam esses dons visíveis e os milagres que confirmavam isso. Isso foi um fato no tempo dos apóstolos, ou seja, o que foi revelado dessa forma cessou e se encontra nas ESCRITURAS SAGRADAS nossa fonte única de fé e prática.

 

Agora o mais interessante, Knox diz não desprezar os dons que Deus tenha dado aos seus irmãos da Reforma, a instrução vem agora pela PALAVRA E ESPÍRITO, onde ambos caminham juntos. O posicionamento de Knox está em total acordo om o pensamento do Presbiterianismo Reformado, e principalmente com O Segundo Livro de Disciplina, ratificado pela Igreja da Escócia em 1578, contém a seguinte declaração, a respeito dos oficiais extraordinários da Igreja:

 

“No Novo Testamento e tempo do evangelho, ele [Cristo] usou o ministério de apóstolos, profetas, evangelistas, pastores, e doutores na administração da palavra; o presbítero para o bem-estar e administração da disciplina; o diaconato para os assuntos eclesiásticos. Algumas dessas funções eclesiásticas são ordinárias, e algumas são extraordinárias ou temporárias. Existem três funções extraordinárias: o ofício do apóstolo, do evangelista, e o de profeta, que não são perpétuos, e agora cessaram na Igreja Nacional da Escócia, ‘EXCETO’ QUANDO DEUS EXTRAORDINARIAMENTE SE AGRADAR EM OS PERSUADIR NOVAMENTE POR UM TEMPO. Existem quatro funções ordinárias ou ofícios na Igreja Nacional da Escócia: o ofício de pastor, ministro ou bispo; o doutor; o presbítero ou ancião; e o diácono. Esses ofícios são ordinários, e devem permanecer perpetuamente na Igreja Nacional da Escócia, se necessário para o governo e política da mesma, e não mais ofícios devem ser recebidos ou ocorridos na verdadeira Igreja Nacional da Escócia estabelecida de acordo com a sua palavra" (The First and Second Books of Discipline, Dallas: Presbyterian Publications, 1993; Second Book of Discipline, Chapter 2, Of the Parts of the Policy of the Kirk, and Persons or Office-Bearers to Whom the Administration Thereof is Committed, pp. 127-28, ênfases acrescentadas).

 

John Knox num sermão baseado no Livro do profeta Isaías diz:

 

“Não me atrevo a negar (para que, ao fazê-lo, não prejudique o doador), mas que Deus ME REVELOU SEGREDOS DESCONHECIDOS do mundo; e também, que ele fez da minha língua uma trombeta, para avisar reinos e nações; sim, CERTAS GRANDES REVELAÇÕES DE MUTAÇÕES E MUDANÇAS, quando tais coisas não eram temidas, nem ainda estavam aparecendo; uma parte da qual o mundo não pode negar (nunca seja tão cego) a ser cumprida, e o resto, infelizmente!”

 

Este sermão de Knox foi pregado em 19 de agosto de 1565, na Igreja de St Giles', onde Knox era ministro e é o único texto completo de um dos sermões de Knox que chegaram até nós. Foi impresso porque a Knox tinha sido dada uma proibição de pregação temporária por ter ofendido o rei Henrique (Lorde Darnley e marido de Maria, Rainha dos Escoceses) pelo uso pontual e comparação de Knox da história de Acabe e Jezabel. Para ler o sermão completo:

https://quod.lib.umich.edu/e/eebo/A04931.0001.001/1:3?rgn=div1;view=fulltext

 

E outra, tanto Samuel Rutherford e George Gillespie tratam John Knox como uma profeta extraordinário fora do comum. Embora Gillespie não irá “ousar dizer” que o dom extraordinário de profecia cessou com o fechamento do cânon da Escritura, note que ele acredita que ele ‘deve dizer’:

 

“Eu devo dizer isto, para a glória de Deus, existiram na igreja da Escócia, tanto no tempo de nossa primeira reforma, e após a reforma, tais homens extraordinários que eram mais que pastores e mestres ordinários, ATÉ SANTOS PROFETAS RECEBENDO REVELAÇÕES EXTRAORDINÁRIAS  DE DEUS, e profetizando diversas coisas desconhecidas e surpreendentes, que em conformidade vieram a ocorrer pontualmente, para a grande admiração de todos os que conheciam os detalhes. Tais foram o Sr. Wishart o mártir, SR. KNOX o reformador, também o Sr. John Welsh, Sr. John Davidson, Sr. Robert Bruce, Sr. Alexander Simpson, Sr. Fergusson, e outros. Levaria muito tempo fazer aqui uma narrativa de todos as informações, e muitas delas são estupendas, que para falar de algumas, pode parecer derrogar as demais, mas se Deus me der oportunidade, eu deverei considerar valer fazer uma compilação destas coisas.” (George Gillespie, Miscellany Questions, Vol. 2, Chapter 5, section 7, p.30).

 

E prosseguimos com a terceira categoria de Rutherford da revelação interna de alguns fatos peculiares a homens piedosos:

 

    “Existe uma 3ª revelação de ALGUNS HOMENS EM PARTICULAR, QUE PRENUNCIARAM COISAS QUE VIRIAM A ACONTECER MESMO DEPOIS DO ENCERRAMENTO DO CÂNON DA PALAVRA, como John Huss, Wycliffe, Lutero que falaram sobre coisas que aconteceriam, e elas certamente sucederam. E, em nosso país, a Escócia, o Sr. George Wishart profetizou que o Cardeal Beaton não passaria vivo pelos portões do Castelo de St. Andrews, mas que ele sofreria uma morte vergonhosa, o que aconteceu. O SR. KNOX PROFETIZOU SOBRE O ENFORCAMENTO DO LORD DE GRANDE. O Sr. John Davidson profetizou, conhecido por muitos do reino, diversos santos e torturados pregadores na Inglaterra fizeram o mesmo.” (Samuel Rutherford, A Survey of Spiritual Antichrist, 1648, p.42)

 

A posição de Rutherford é clara o bastante. Ele francamente afirma que a revelação extraordinária ocorreu mesmo após o fechamento do cânon.

 

Resumindo, usar esse texto de John Knox para tentar defender que o cessacionismo moderno era o mesmo que o dele não se sustenta. Knox era sim um cessacionista, ele acreditava que dons e revelações canônicas cessaram e que esse conteúdo está inserido nas Escrituras, nossa única regra de fé e prática. Porém, Knox não negava que ainda Deus poderia revelar mistérios aos seus santos fiéis, sendo que esses mistérios não eram canônicos ou se enquadram do mesmo padrão das Escrituras. Podemos até sermos mais ousados, em dizer que John Knox faz uma distinção entre os dons reveladores de Deus e os que vêm através dos mistérios revelados a ele e aos santos fiéis da Reforma. Negando a possibilidade do primeiro, mas permitindo a existência do último.   

 

Essa distinção faz dele um cessacionista no que diz respeito à revelação divina, mas um continuísta no que diz respeito à função contínua de revelações privadas. Observe que Knox, vai totalmente no oposto dos presbiterianos modernos que são hipercessacionistas, pois enganam que existe algum tipo de revelação privada, contrariando a posição de Knox e de demais presbiterianos confessionais da Segunda Reforma da Escócia de 1638.

 

Comentários