SAMUEL RUTHERFORD CONTRA O HIPERCESSACIONISMO DOS PRESBITERIANOS MODERNOS



 
 
O POSICIONAMENTO DE SAMUEL RUTHERFORD SOBRE PROFETAS E PROFECIAS
 
 

O teólogo de Westminster, Samuel Rutherfurd, em seu Tryal and Triumph of Faith (Londres: John Field, 1645), 315, expressa sua crença nisso: “Eu não lamento o significado e exalto as inspirações imediatas [isto é, do Espírito]; este último não nego em alguns casos…” 

Samuel Rutherford, em uma série de três sermões sobre o sonho de Jacó (Gênesis 28:10-15), interpretou os sonhos reveladores no Antigo Testamento como tipos de graças espirituais no Novo.

Em seu segundo sermão, ele faz um comentário tipicamente cessacionista de que os modos anteriores eram algo evidente na história do Antigo Testamento quando Deus:

achou mui bom [comunicar] em sua infinita sabedoria por meio de inspirações imediatas, de aparições, de sonhos, e o Senhor fala a Moisés, cara a cara, assim como um homem faz a seu amigo, sendo aquele familiarizado com Moisés nos tempos em que essa história aconteceu. 

Segundo Rutherford, esse registro antigo dos modos de revelação especial ainda tinha muito a ensinar à sua geração. Rutherford discerne um princípio nas Escrituras de que a graça de Deus está presente nos corações e mentes dos crentes durante o sono, porque de uma maneira que os ímpios não têm, o povo de Deus tem-nO em seus corações enquanto estão acordados:

às vezes será assim com você também durante a noite, pois a graça tem espaço no apetite sensível bem como no racional; portanto, se houver pouco de Deus durante o dia, não haverá nada dele no momento de dormir.

Assim, a congregação deve entender que a presença de Deus em um sonho fornece graça santificadora em vez de revelação.

Em outro lugar, em seu Survey of the Spirituall Antichrist (London: J.D. & R.I. for Andrew Crooks, 1648), 42-45, ele estabelece regras para discernir e usar tais profecias. Ele divide a revelação interior em quatro categorias:

 
(1) Revelação Profética
(2) Revelação especial apenas para os eleitos
(3) Revelação de alguns fatos para homens piedosos
(4) Revelação falsa e satânica
 
(1) Revelação profética é aquela difusão no espírito que o Espírito Santo faz no espírito e juízo do homem que escreve a santa escritura, seja profeta ou apóstolo e, isso por uma imediata inspiração da mente e vontade de Deus neles, seja por visões, sonhos, ou qualquer outra forma, sem os homens, ou a ministração ou ensino de homens, como ele fez com Isaías, Jeremias, Is 1.1; Jr 1.1 ou a Paulo Gl 1.1.
 
(2) Existe uma revelação interna especial, feita de coisas da escritura, aplicadas em particular às almas dos crentes eleitos, pela qual, tendo ouvido e aprendido a respeito do Pai, Jo 6.4; que se revela e se faz conhecido a eles; pelo Espírito de sabedoria e revelação, que é a esperança da vocação deles, e riquezas da glória da sua herança nos santos, Ef 1.17-19, e que revelou-se a eles, e que carne e sangue não podem revelar, mas o Pai de Cristo, Mt 16.17. E que o Pai revela aos pequeninos, mas esconde dos sábios e entendidos, Mt 11.25-26 (Samuel Rutherford, A Survey of Spiritual Antichrist (London, 1648), p.39-40).
 
(3) A terceira categoria de Rutherford da revelação interna de alguns fatos peculiares a homens piedosos:
 
Existe uma 3ª revelação de alguns homens em particular, que prenunciaram coisas que viriam a acontecer mesmo depois do encerramento do cânon da palavra, como John Huss, Wycliffe, Lutero que falaram sobre coisas que aconteceriam, e elas certamente sucederam. E, em nosso país, a Escócia, o Sr. George Wishart profetizou que o Cardeal Beaton não passaria vivo pelos portões do Castelo de St. Andrews, mas que ele sofreria uma morte vergonhosa, o que aconteceu. O Sr. Knox profetizou sobre o enforcamento do Lord of Grange. O Sr. John Davidson profetizou, conhecido por muitos do reino, diversos santos e torturados pregadores na Inglaterra fizeram o mesmo (Samuel Rutherford, A Survey of Spiritual Antichrist, 1648, p.42)
 
A posição de Rutherford é clara o bastante. Ele francamente afirma que a revelação extraordinária ocorreu mesmo após o fechamento do cânon.
 
Finalmente, Rutherford ataca o excesso e abuso dos heréticos de seus dias enquanto descreve sua quarta e final categoria de revelação interna – falsa e satânica revelação.
 
(4) Nenhum Familista ou Antinomianos – nem David George, ou H. Nicholas, nenhum homem daquele grupo, Randel ou Wheelwright, ou Den, ou qualquer outro – que eu tenha ouvido, sendo dedicado ao caminho familístico, nunca prenunciaram nada, mas uma quarta espécie de mentiras e falsas inspirações. A Sra. Hutchison disse que ela teria um miraculoso livramento no Tribunal de Boston tal qual Daniel teve dos leões, o que se provou falso. Becold profetizou da libertação da cidade de Munster que foi entregue aos seus inimigos, e ele e seus profetas torturados e enforcados. David George profetizou da sua própria ressurreição, o que nunca se cumpriu (Samuel Rutherford, A Survey of Spiritual Antichrist, 1648, p.42); 
 
Rutherford agora se volta para o coração de nossa pergunta já que ele diferencia revelação extraordinária de alguns fatos peculiares a homens piedosos e falsas e satânicas revelações.
 
Agora em relação as diferenças entre a terceira e quarta revelação, eu digo que:
 
Estes dignos Reformadores não levaram nenhum homem a crer em suas profecias como escrituras. [Esta informação é primordial e deve ser mantida em todas as circunstâncias]. Devemos dar crédito as predições dos profetas e apóstolos, profetizando coisas que viriam a acontecer, como verdadeira palavra de Deus; eles [os reformadores] nunca consideraram a si mesmos como organismos imediatamente inspirada pelo Espírito Santo, como os profetas fazem, e Paulo fez, Rm 11, profetizando o chamado dos Judeus; Ap 1.10, e por todo o livro.
 
Ainda, eles nunca condenaram aqueles que não acreditaram em suas predições, desses fatos e eventos particulares, sendo esses fatos e eventos particulares, como os profetas e apóstolos fizeram. [Aqui Rutherford coloca essas predições em uma classe inferior do que o profetizar daqueles imediatamente inspirados pelo Espírito Santo. Os homens não são dados a acreditar neles, e nem são os homens que duvidam condenados ou disciplinados – elas não são uma regra obrigatória ou compulsória].
 
Mas a Sra. Hutchison disse (Levante, Reine, 61, art 27): Que suas particulares revelações sobre eventos futuros eram infalíveis como qualquer Escritura, e que ela é obrigada a crer nelas como Escritura, pois o mesmo Espírito Santo é o autor de ambos. Familistas tomam a palavra pregada como cartas ou o bom evangelho. Temos isso como carta e sã pregação, já que contempla ser: testemunhar Cristo e todas as suas promessas, do ouvir o bom evangelho que trabalha muitos anos após ter sido pregado; e a palavra pregada muito tempo atrás pode ser despertada por uma triste aflição, uma inspiração de Deus, e produz o trabalho da conversão, e ainda é a palavra da verdade na Escritura que produz fé e é a mesma semente que repousa muitos meses debaixo da terra e cresce e produz fruto. E sabemos que antinomianos rejeitam as Escrituras e constroem sobre as revelações internas, como suas compulsórias e obrigatórias regras.
 
Os eventos revelados às testemunhas piedosas e ouvintes de Cristo não são contrários a palavra. [Esta é outra regra invariável]. Mas Becold, John Mathie e John Schykerm (que matou seu irmão sem motivo) e outros entusiastas daquele assassinato pelo espírito de Satanás, que matou homens inocentes, expressamente contra o sexto mandamento, Não Matarás; e ensinou os Camponeses da Alemanha a se levantarem e a matar todos os magistrados, porque eram magistrados; sob o pretexto de incentivos e inspirações do Espírito Santo foram mobilizados contra a palavra de Deus. Todos os Reformadores piedosos previram o fim trágico dos proclamados inimigos do evangelho; nem iria o Sr. Wishart comandar ou aprovar que Norman e John Leslie devessem matar o Cardeal Beaton como fizeram.
 
Eles tinham um preceito geral junto com aquela maligna caçada ao homem perverso: só um inofensivo mistério, senão um extraordinário forte impulso, ou um espírito da Escritura a os guiar, os conduziu a aplicar um preceito geral de justiça divina, no que previam, a particulares homens ímpios, e eles mesmos sendo apenas preditores, não coparticipantes do ato. 
 
[Rutherford define o tipo válido da revelação extraordinária como ‘um forte impulso’ ou ‘espírito da escritura guiando-os’. É notável que ele deixa claro e condena a ideia de que essas profecias são imediatamente inspiradas. Parece que Rutherford alega que o Espírito de Deus extraordinariamente exercita a intuição do homem e de predisposição Escritural a informá-lo dos eventos futuros fazendo o homem aplicar preceitos gerais de justiça divina, ao invés de comunicar essa informação diretamente por uma voz audível ou visão. A explicação de Rutherford é segura e plausível, mas por causa da natureza insondável da real dinâmica envolvida não é necessariamente conclusiva].
 
Eles [os Reformadores] eram homens sólidos na fé ao contrário do Papismo, Prelazia, Socianismo, entusiastas sem lei, Antinomiano, Arminianos, Arianismo e tudo o que é contra a sã doutrina. Disso sendo todos estes carentes, eles estão nesse quarto tipo de revelações, não podemos julgá-los exceto como de índole satânica. [Aqui uma outra regra geral é proposta. Aqueles que clamando à profecia, e sendo frágeis na doutrina e prática, definitivamente não devem ser considerados como sendo guiados pelo Espírito de Deus em suas predições – PRCE].
 
Eles não são puros e inofensivos; mas empurram homens para as sangrentas e perversas práticas proibidas por Deus. Embora Deus tenha ordenado a Abraão matar seu filho, testando sua obediência, Deus o conteve, e não o deixou agir como lhe pediu. Esses outros na verdade matam inocentes sob o pretexto do incentivo do Espírito.
 
Eles não tem nenhum preceito da Palavra para os apoiar, e se eles orientam homens a se abster da lei e testemunho é porque não há nenhuma luz neles, Is 8.20. Estas revelações são de homens de mentes podres e corrompidas, destituídos da verdade se opondo e sendo destrutivos à santificação. Eles afirmam que as Escrituras são imperfeitas, manca e um catálogo feito pelo homem, ao contrário do que dizem as Escrituras Sl 19.7-9; II Tm 3.15-16; Lc 16.30-31; João 20.30-31; At 26.22; Sl 119.105, etc
 
Então a escritura não deveria decidir todas as verdades controversas, e nem ser aquela pela qual encontramos a verdade e a regra que prova os espíritos, se são de Deus ou não, contrário a 1 João 4.1; 1 Ts 5.21; e contrário ao exemplo dos nobres Bereanos que provaram a doutrina de Paulo pelas escrituras, At 17.11.
 
O emocionante toque de Cristo ao coração, agradáveis alentos do fôlego de Deus em sua Palavra; o toque do diabo é um estúpido toque e sem vida, sendo destituído da palavra da verdade. Os homens agem de acordo com seus próprios espíritos, e andam na luz de sua vontade, não havendo fim dos pecados e errantes de Deus quando agem sob nenhum conhecido preceito da palavra 
 
(Samuel Rutherford, A Survey of Spiritual Antichrist, London, 1648, p. 43,44).

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